Quatro Rodas -Edição 739 (2020-11)

(Antfer) #1

opinião


gacia da cidade mais próxima, que
era Osório, a 90 km de Porto Alegre.
Entrei na cidade escoltado por três
carros e com um oficial sentado no
banco do passageiro do Miura.
Aquele policial do início da via-
gem, que nunca procurei saber o
nome, se comportava como se fos-
se o chefe. Por isso, não retruquei
quando ele disse ao delegado que eu
o desrespeitei com palavrões, que
tentei fugir em sua primeira aborda-
gem e que não quis dar a minha car-
teira de motorista. A única acusação
verdadeira foi a última, porque ele
havia dito que a carteira ficaria com
ele e eu deveria seguir a viagem para
São Paulo sem o documento.
Durante o “interrogatório”, esse
senhor chegou bem perto de mim
e me olhou nos olhos dizendo que
a minha cara não era nada estra-
nha e, depois, ordenou aos policiais
que vistoriassem o Miura e a minha
bagagem. Não encontraram nada e,
felizmente, também não colocaram

policial dirigia. Ele não quis abrir
passagem e me fechou, quando ten-
tei mudar de faixa, passando a fazer
sinais para que eu parasse, exibindo
um documento com uma larga faixa
verde e outra amarela.
Naquela época a gente não tinha
medo de assalto. Por isso, parei, ex-
pliquei quem eu era e o que estava
fazendo e aparentemente ficou tudo
bem. Poucos quilômetros à frente,
fui parado novamente. Só que, desta
vez, por um grupo de guardas rodo-
viários e o próprio policial condu-
tor do Corcel II. Eles não quiseram
conversa. Me levaram para a dele-

Jornalista, trabalhou
nove anos, como
repórter na QUATRO
RODAS, dez anos
como assessor do
piloto Ayrton Senna
e 25 anos na Audi

Charles
MarzanasCo

Quando retirou o esportivo na fábrica, o jornalista, que chegou a ser preso,
mal sabia o que o aguardava na viagem até a pista de testes

Saga ao volante do Miura


112 quatro rodas novembro


A viagem de
Porto Alegre
(RS) até Limeira
(SP) foi cheia de
contratempos

D


e todos os testes que fiz para a
QUATRO RODAS, entre 1977 e
1986, o que mais ficou marcado
foi o do Miura Targa, publicado em
março de 1979. Imagino que nem em
sonho, daqueles mais inspirados,
eu viveria tudo o que aconteceu por
causa do esportivo, que era fabrica-
do em Porto Alegre (RS).
Viajei até o Sul com a missão de
entrevistar o fabricante e trazer o
carro para testar em nossa pista, em
Limeira (SP). Fui recebido por nin-
guém menos que o próprio projetis-
ta do carro, Itelmar Gobbi, que nos
deixou no último dia 23 de outubro,
e seu sócio, Aldo Besson, falecido
em 2011. De posse das informações,
no dia seguinte iniciei a viagem que
seria cheia de acontecimentos.
Tudo começou quando um chefe
de polícia gaúcho cruzou o meu ca-
minho. Era por volta de 7 horas da
manhã, quando tentei ultrapassar
o Corcel II particular que o policial
(que até então eu não sabia que era

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