Placar - Edição 1469 (2020-11)

(Antfer) #1

EspEcial


16 NOV | 2020


são em segunda instância seja anunciada. Em entrevista
ao UOL, o jogador interpretou à sua maneira o evento:
“Infelizmente existe o movimento feminista. Muitas
mulheres, às vezes, não são nem mulheres, para falar o
português claro”. A juíza e escritora Andrea Pachá tem
na ponta da língua o português claro: “Infelizmente,
sim, ainda precisar existir o feminismo. Em uma socie-
dade machista e patrimonialista, a violência contra a
mulher é tolerada, desde que silenciosa e lucrativa. Em
vez de perceber o abuso e a violência contra a mulher, o
jogador trata de desqualificar o movimento feminista,
como se a culpa fosse de quem defende o direito de que
qualquer mulher possa viver sem ser violentada”. Con-
vém, nessas horas, dar voz também aos homens. Meda-
lhista pan-americano de taekwondo em 2007, Diogo Sil-
va, 38 anos, considera o futebol um meio machista, ra-
cista e homofóbico, espelho social brasileiro — com as
exceções de sempre, é claro. “O futebol segue a cartilha
antiga dos preconceitos, o que tem de novo é a organiza-
ção das mulheres, a não
aceitação desse tipo de
comportamento”, diz Silva.
“Os grupos ofendidos e
hostilizados se cansaram
disso, organizaram-se e
partiram para a reação.”
Um modo de medir o
estrago irrecorrível de Ro-
binho ao desdenhar das
acusações, como se fos-
sem absurdas, é ouvir
gente que sempre o admi-
rou, mas sabe que já não é
aceitável fechar os olhos.
A atacante do Flamengo,
a paraibana Lú Meireles,
32 anos, não esconde o de-
sapontamento. “Minha
primeira reação foi de enorme decepção, porque sem-
pre fui muito fã e gostava muito dele. Essa atitude des-
prezível me encheu de tristeza e raiva”, conta ela.
O cronista e escritor Xico Sá, santista de quatro costa-
dos, ficou indignado e, depois, aliviado com o desfe-
cho. “Não tem pedalada ou nostalgia da torcida que
justifique essa contratação. Nem se fosse Pelé. Um mi-
nuto de Robinho em campo seria um desrespeito a to-
das as mulheres do mundo.” Para Eduardo Suplicy, fi-
lho de Paulo Cochrane Suplicy, armador do primeiro
time do Santos, em 1912, e fã do atacante, não pairam
dúvidas: “Fui grande admirador dos dribles de Robi-
nho e seus gols me trouxeram muita alegria. Mas, ao
saber das evidências sobre como agiu com a moça
alba ne sa, fiquei muito triste. Tenho pensado como os

O advogado
Gnocchi
(a cim a), que
defende a
vítima, quer
punição contra
os ataques
ocorridos no
Sio Café, em
Milão, no
tempo em
que o brasileiro
defendia o
Milan. Para a
juiza Mariolina,
houve “falta de
escrúpulos”

Arquivo Pesso

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