Placar - Edição 1469 (2020-11)

(Antfer) #1

NOV | 2020 39


Antes, um passe de lado. Não
que não haja filmes sobre futebol.
Existem, sim, e o Netflix está cheio
deles, mas a maioria padece de um
problema fundamental, exposto em
Pelé Eterno (2004), de Anibal Mas-
saini Neto, tomado como medida
para sustentar a canelada inicial na
esteira dos 80 anos do jogador. Para
além da pesquisa exaustiva, com

A cena à esquerda e a tela de apresentação acima definem
o encontro do cinema com o futebol em Todomundo,
de Thomaz Farkas: a emoção é fundamental

Um documentário menos conhecido, mas à altura do craque: como Tostão
em campo, o roteiro joga sem a bola, deixando espaços a ser preenchidos

cerca de 400 dos 1 281 gols anotados
pelo rei, sua mais destacada contri-
buição narrativa é justamente o que
o esvazia como um bom filme sobre
o tema — a digitalização daquele
que o próprio Pelé considera o seu
Cidadão Kane, o seu Oito e Meio, o
seu Um Corpo que Cai. Como se sa-
be, não há registro em vídeo dos
três lençóis seguidos, sem deixar a

bola cair no chão, antes do arrema-
te de cabeça nos 4 a 0 a liquidar o
Juventus no Campeonato Paulista
de 1959. E aí Massaini vai lá e recria
o lance digitalmente. Pode parecer
uma boa ideia, mas o que se vê é a
obra-prima de Pelé reduzida a uma
jogada de videogame, naquele rit-
mo das coisas que não podem ter
acontecido de verdade.

fotos Rep

Roduç

ão

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