Clipping Banco Central (2020-12-06)

(Antfer) #1

Projeto de ditador


Banco Central do Brasil

Folha de S. Paulo/Nacional - Opinião
domingo, 6 de dezembro de 2020
Cenário Político-Econômico - Colunistas

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Perto de completar a metade de seu mandato, o
presidente Jair Bolsonaro, depois de muitas derrotas,
acostumou-se aos limites que a mecânica institucional
impõe aos ocupantes do Palácio do Planalto.
Acostumou-se, mas não se pode dizer que tenha
aprendido.


Vez ou outra o projeto de ditador adormecido que habita
o espírito presidencial volta à tona, ainda que com
menos estrépito, às vezes por interpostas pessoas.


Nos últimos dias, a criatura rosnou no Conselho
Administrativo de Defesa Econômica (Cade), órgão que
existe para zelar pela concorrência entre empresas, e
sua vítima foi o Grupo Globo, considerado pelo
presidente inimigo perene a ser destruído.


A pretexto de investigar negócios corriqueiros e legais
no mercado publicitário, sem que se saiba o indício
concreto de irregularidade, a autoridade bloqueou
apenas ao grupo a faculdade de bonificar agências que
carreiem mais clientes para o veículo.


Seus concorrentes podem seguir coma prática, que é


disseminada no meio publicitário e inclusive regulada
por lei. O ato de ofício foi do superintendente-geral,
ligado a caciques do PP, o partido que sonha em filiar o
presidente e que serve de base para o Centrão ora
bolsonarista no Congresso.

De resto, a ação está em linha com promessa feita por
Bolsonaro ou seus asseclas já na campanha, depois
reforçada em entrevista a esta Folha no ano passado.
Então, ele havia dito que editaria uma medida provisória
cujo alvo seria a Globo.

"Pelo menos por cinco meses por ano [na verdade o
prazo de validade de uma MP é de 120 dias se não for
votada pelo Congresso] teremos democracia na
distribuição de verbas publicitárias no Brasil", disse.

O caminho da medida provisória foi descartado aqui,
mas escolhido para outra obsessão do mandatário:
acabar com a obrigação legal de empresas de
sociedade anônima de publicar balanços em jornais
impressos.

Medida provisória neste sentido já fora expedida antes e
a sabedoria do Congresso a deixou caducar. Segundo
revelou seu anspeçada nas Comunicações, Fabio
Wajngarten, em "entrevista" a Eduardo, o filho deputado
federal do presidente, a ideia é reeditá-la - o que fere o
bom senso, mas isso não parece incomodar a turma.

Seu objetivo é uma tentativa escancarada de atingir
veículos que, ao praticar jornalismo profissional,
publicam reportagens críticas ao governo federal - o
mais prejudicado seria de longe o jornal Valor
Econômico, do mesmo grupo fluminense.

Mesmo reprimido pelo aparato da democracia,
Bolsonaro dá seus roncos persecutórios contra a
imprensa. Se o nível de vigilância for o mesmo, vai
fracassar de novo.

Assuntos e Palavras-Chave: Cenário Político-
Econômico - Colunistas
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