Clipping Banco Central (2020-12-06)

(Antfer) #1

Desafio de Paes será resgatar o orgulho do carioca


Banco Central do Brasil

O Globo/Nacional - Opinião
domingo, 6 de dezembro de 2020
Cenário Político-Econômico - Colunistas

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Novo prefeito precisará adaptar suas promessas à
realidade de uma cidade deteriorada, com prefeitura
falida


Uma característica das eleições municipais deste ano
foi a aversão a riscos. Num 2020 atípico, sacudido pela
mais letal pandemia em um século, o cidadão preferiu
escolher nomes conhecidos - e de trabalho reconhecido.
A vitória do ex-prefeito Eduardo Paes sobre Marcelo
Crivella é exemplo dessa tendência.


O eleitor confrontou os quatro anos desastrosos de
Crivella com os oito de Paes (2009-2016), período em
que o Rio - embalado por Copa do Mundo e Olimpíada -
recebeu um volume de obras comparável à
administração reformista de Pereira Passos, no início do
século passado. Mas os cariocas devem estar
conscientes de que essa fase ficou para trás. No
horizonte, não há mais grandes eventos, muito menos
dinheiro. O que há é uma pandemia que continua a
matar sem piedade.


Paes herdará uma terra arrasada. O futuro secretário de
Fazenda, Pedro Paulo Carvalho, estima para o ano que


vem um rombo de R$ 10 bilhões, dos quais R$ 7,5
bilhões seriam déficit acumulado deste ano. Não há
certeza se haverá recursos para pagar o salário de
dezembro e o 132 do funcionalismo, embora Crivella
tenha enviado à Câmara projeto para reduzir o IPTU
alegando folga no caixa. A proposta de Orçamento para
2021 superestima receitas e subestima despesas.

O novo prefeito também receberá uma cidade
deteriorada. Sinais de degradação se espalham pelas
zonas Norte, Sul e Oeste. O Centro virou um deserto.
Os BRTs Transoeste, Transcarioca e Transolímpico, e o
Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) - implantados na
gestão de Paes - estão à beira do colapso. Os ônibus
urbanos caem aos pedaços. As escolas, que passaram
o ano fechadas, precisam se preparar para fundir dois
anos em um.

Paralelamente, a pandemia não dá trégua. Crivella não
se move, mas o vírus sim. A flexibilização segue sem
freio, enquanto profissionais de saúde se desdobram
em hospitais superlotados, onde já não há vagas de
UTI. A vacina por enquanto ainda é miragem.

O maior desafio de Paes será adaptar as promessas de
campanha à realidade financeira. Trata-se de questão
objetiva: elas precisam caber no Orçamento. Na saúde,
Paes prometeu contratar 6 mil profissionais, reabrir
leitos e implantar 21 clínicas de especialidades e 13
centros de diagnóstico por imagem. Na educação, quer
contratar 3 mil professores, aumentar em cem mil o
número de alunos em tempo integral e distribuir tablets
a todos os da rede municipal (500 mil). Aos servidores,
acenou com reajustes pela inflação e com a volta da
gratificação anual por produtividade. Nos transportes,
anunciou a recuperação das vias dos BRTs e a
reabertura de estações fechadas.

É claro que uma gestão eficiente das contas e a aposta
em parcerias público-privadas podem abrir espaço
orçamentário. É boa a ideia de propor um teto de gastos
municipal e uma Lei de Responsabilidade Fiscal para a
cidade. Espera-se que vá além do discurso.
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