Clipping Banco Central (2020-12-06)

(Antfer) #1

DORRIT HARAZIM - Natal gordo


Banco Central do Brasil

O Globo/Nacional - Opinião
domingo, 6 de dezembro de 2020
Cenário Político-Econômico - Colunistas

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Autor: DORRIT HARAZIM


Natal não é para amadores, e poucos percebem os
desvios que cometem quando hipnotizados pelo festivo
arrastão. Basta citar um único excesso coletivo da vida
brasileira a cada dezembro. Desde que as luzinhas de
decoração vindas da China passaram a custar uma
ninharia, elas engolem prédios, lojas, ruas, interiores de
casas, postes e praças. Você acorda de manhã, e as
árvores que até a véspera pareciam árvores sumiram.
Viraram espantalhos, assombrações. Estão de tronco e
galhos estrangulados por fileiras cerradas dessas
luzinhas que piscam dia e noite, montadas com
diligência para lhes esconder qualquer vestígio de
natureza. Poderiam fazer parte de algum sonho natalino
do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, mas não
fazem mal a ninguém. Apenas deveriam ser usadas
com mais temperança.


Nos Estados Unidos de Donald Trump, Natal é coisa
séria. "Se eu me tornar presidente", prometeu ao longo
da campanha de 2016, "vamos voltar a nos
cumprimentar desejando Feliz Natal, e podem esquecer
o Boas Festas". Equiparava esse cumprimento genérico


e inclusivo a um ataque contra as tradições cristãs por
parte de terroristas politicamente corretos. Também na
campanha de 2020, o presidente alertou seus
seguidores para o risco de o Natal estar sob ataque.
Caso o democrata Joe Biden fosse eleito, ele seria
capaz de abolir as festividades em todo o país.

Como se sabe, Biden venceu, será o segundo
presidente católico dos EUA a partir de 20 de janeiro
(John Kennedy foi o primeiro) e tem problemas
concretos para lhe tirar o sono. Na questão natalina,
Trump deveria ter olhado com mais afinco à sua volta,
pois o perigo morava na própria Casa Branca. Fitas
gravadas à sorrelfa em 2018, e vazadas este ano por
uma ex- amiga da primeira-dama, atestam a
impaciência de Melania com a tarefa que lhe cabia.
Como o linguajar usado pela First Lady foi pouco
festivo, cabem asteriscos. "Eu ralo pra c****** com essa
coisa de Natal, apesar de ninguém dar p**** nenhuma
pro Natal ou pra decoração natalina. Mas sou obrigada
a fazê-lo, certo?", desabafou em tom de queixa por ter
de responder a perguntas sobre crianças enjauladas na
fronteira quando seu tempo estava sendo tomado pelo
planejamento da decoração.

Naquele Natal, Melania, toda de preto para a filmagem
enviada às mídias, inspecionou lentamente a obra
finalizada, a começar pela galeria presidencial que
decorara com 40 imensas árvores vermelho-sangue,
destituídas de qualquer adereço. Em dois outros salões
nobres da Presidência, foram instaladas 29 árvores
cobertas só de ornamentos escarlates. Foi um auê, com
a inevitável enxurrada de memes. Houve quem visse na
decoração satânica um quê de lack Nicholson em "O
iluminado", o clássico de Stanley Kubrick baseado no
romance homônimo de Stephen King.

Esta semana o presidente e a primeira-dama
inauguraram os festejos natalinos de 2020. Teve
pompa, circunstância, não teve máscaras nem
distanciamento social, e haverá várias recepções para
convidados. Na Casa Branca, não é bem-vinda a
lembrança de que o país está de joelhos pela Covid. A
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