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BERNARDO MELLO FRANCO - O exemplo de Belém


Banco Central do Brasil

O Globo/Nacional - Opinião
domingo, 6 de dezembro de 2020
Cenário Político-Econômico - Colunistas

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Autor: BERNARDO MELLO FRANCO


Em 2020, a oposição se dividiu e perdeu na maioria das
capitais. Uma exceção foi Belém, onde Edmilson
Rodrigues encabeçou uma frente de esquerda para
conquistar a prefeitura. O deputado do PSOL montou
uma aliança com seis partidos, incluindo o PT de Lula e
o PDT de Ciro Gomes. No segundo turno, venceu o
bolsonarista Delegado Eguchi, que dizia defender
"valores da família e da pátria".


Foi por pouco. Edmilson teve 51,7% dos votos, apenas
26 mil a mais que o rival. A disputa repetiu o enredo de
2018, com acusações rasteiras no campo moral.
"Enfrentei uma campanha muito violenta. Disseram que
eu construiría banheiro unissex nas escolas, que as
crianças poderiam trocar de sexo aos 9 anos de idade",
conta o prefeito eleito.


A capital do Pará é uma cidade religiosa. Além de sediar
o Círio de Nazaré, considerado a maior festa católica do
mundo, assistiu ao nascimento da Assembléia de Deus,
maior denominação evangélica do país. Sobrinho de
pastor, Edmilson precisou desmentir boatos de que


perseguiría cristãos. No último debate na TV, o
candidato do Patriota disse que o PSOL queria liberar
as drogas e implantar a "ideologia de gênero". O
deputado ignorou a conversa e usou a réplica para falar
sobre educação.

"Não aceitei entrar na baixaria. Nosso desafio é mostrar
que essas mentiras não existem. Como prefeito, vou
receber da mesma forma os bispos e os sacerdotes do
candomblé", promete.

O discurso anticorrupção também marcou a disputa.
Licenciado da Polícia Federal, Eguchi escolheu como
vice um sargento da PM. "Ele foi advogado de
madeireiras acusadas de crime ambiental, mas usou o
título de delegado para dizer que combateria a
corrupção.

Com essa bandeira, já elegeram um miliciano para
governar o país", diz o prefeito eleito. "Desde a Lava-
Jato, há um clima de macarthismo no ar. O ataque a
Lula e ao PT virou arma para combater toda a
esquerda. Houve corrupção, mas também houve muita
injustiça", protesta.

Arquiteto e professor universitário, Edmilson já
administrou Belém entre 1997 e 2004, quando era
filiado ao PT. Depois da mudança para o PSOL, perdeu
as eleições de 2012 e 2016. "Agora consegui juntar
Haddad, Ciro, Boulos e Marina no mesmo palanque.
Sem essa unidade, não teria vencido", reconhece.

A ala mais radical do PSOL se opôs à frente, mas
Edmilson conseguiu dobrar as resistências. "Expliquei
que não precisaríamos abrir mão de princípios para
ampliar o leque de alianças. E os companheiros que
eram contra não criaram obstáculo, como é comum na
esquerda", comemora.

Agora o prefeito eleito quer que Belém sirva de exemplo
na corrida presidencial de 2022. "Provamos que a
esquerda unida pode derrotar o fascismo. Ninguém tem
direito de impôr uma derrota ao país por vaidade. O Lula
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