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(Antfer) #1

O Rio que o senso comum não vê


Banco Central do Brasil

O Globo/Nacional - Opinião
domingo, 6 de dezembro de 2020
Cenário Político-Econômico - Colunistas

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Autor: MAURO OSORIO, MARIA HELENA VERSIANI E
PAULO CÉSAR REIS


O estado e a cidade do Rio de Janeiro vivem uma crise
socioeconômica desde os anos 1970, quando ocorre a
consolidação da transferência da Capital Federal para
Brasília. Entre 1970 e 2017, apresentaram o menor
dinamismo econômico entre todas as unidades
federativas e capitais estaduais do país. Nesse período,
o Estado do Rio perdeu 38,8% de participação no PIB
nacional, e a cidade perdeu 60,1% (IBGE).


Além disso, a cidade do Rio apresenta grave
desigualdade territorial. O índice de Desenvolvimento
Social-IDS, organizado pelo Instituto Pereira Passos
(IPP), mostra uma diferença abissal entre a qualidade
de vida urbana na Zona Sul do Rio de Janeiro vis-à-vis
à situação encontrada nas zonas Suburbana e Oeste.
Esse índice demonstra que a desigualdade
socioterritorial na cidade do Rio, ao contrário do que
muitos supõem, não contrapõe principalmente favela
versus não favela, mas sim centro versus periferia.


Pesquisa de campo feita a partir do programa Territórios


Sociais, da prefeitura do Rio, apontou que, em 2017,
nos dois mil domicílios mais pobres da cidade
identificados pelo IDS, mais de 70% não tinham filtro de
água; 25% tinham ao menos uma criança fora da
escola; 75% das famílias não tinham nenhum membro
com mais de cinco anos de estudo; mais de 30% dos
entrevistados não possuíam ou desconheciam se
possuíam documentos de identificação pessoal.

Nossa periferia metropolitana é um desastre social,
econômico e de infraestrutura. Entre os 66 municípios
das periferias metropolitanas do Sul e Sudeste brasileiro
com mais de cem mil habitantes, 9 entre os 10 piores
resultados em educação, medidos pelo Ideb/MEC no
ano de 2019, são municípios da periferia metropolitana
do Rio de Janeiro.

Um motivo da longa crise estrutural do Rio é a carência
de reflexão sobre as especificidades do estado, de sua
capital e demais regiões de governo - o que leva a
sensos comuns equivocados e dificulta o desenho e a
execução de estratégias de desenvolvimento.

Entre outros exemplos, escapa ao conhecimento
comum que: 1) a cidade do Rio tem 9.299 pessoas
ocupadas, formal ou informalmente, na agropecuária, o
maior número de trabalhadores nesse setor entre todos
os 92 municípios fluminenses (Censo IBGE/2010); 2)
entre os trabalhadores formais da cidade do Rio, 79,8%
possuem carteira assinada, e apenas 20,2% são
servidores públicos municipais, estaduais ou federais
(Rais/2019); 3) na cidade do Rio existem 141.766
postos de trabalho com carteira assinada na indústria de
transformação (excluindo a extração de petróleo),
número maior que o observado, nesse setor, para o
total dos demais 21 municípios da Região Metropolitana
do Rio, de 91.878. Ou seja, a indústria de transformação
na cidade do Rio ainda tem importância bem maior do
que supõe o senso comum; 4) apesar de suas
potencialidades turísticas, a cidade do Rio tem 20.326
empregos com carteira assinada em hotéis e pousadas,
o que representa apenas 0,90% do total de empregos
formais da cidade; 5) a receita de ISS da prefeitura do
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