Clipping Banco Central (2020-12-06)

(Antfer) #1

FERNANDO HENRIQUE CARDOSO - Agonia e esperanças


Banco Central do Brasil

O Globo/Nacional - País
domingo, 6 de dezembro de 2020
Cenário Político-Econômico - Colunistas

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Autor: FERNANDO HENRIQUE CARDOSO


Quase ao chegar ao final do ano em curso, as agonias
aumentaram. Na economia, o país se arrasta em uma
recessão há já algum tempo, que foi agravada pela
pandemia causada pelo novo coronavírus. Tudo,
naturalmente aumentado pela desconfiança no governo
federal: faltam a ele as qualidades necessárias não só
para agir com rapidez, mas mesmo para agir. Não vou
relembrar, por ocioso, mas a "gripezinha" virou morte
para milhares de pessoas; o descaso chegou a tanto
que na área da Saúde os ministros se sucedem, e os
erros não cessam: falta muita coisa, mas chama a
atenção a imprevisibilidade, o desconhecimento é
substituído por palpites em grande quantidade.


No auge da pandemia, quando liderança, informação
verídica e respeito à ciência salvam vidas, o governo
federal persiste no negacionismo, na politização e no
desprezo ao conhecimento. Isto que já seria grave em
tempos normais chega às raias do absurdo diante da
ameaça que pesa sobre o nosso país.


Agora mesmo, como se não houvesse urgência, há


gente na sociedade pondo em dúvida a eficácia das
vacinas em geral. Isso em um país como o nosso, de
amplíssima tradição na matéria. Os dias tristes das
revoltas "contra as vacinas", no caso a de varíola e
febre amarela, que marcaram um tento de Oswaldo
Cruz, podem até virar o feitiço contra o feiticeiro. A
revolta agora é contra a demora das vacinas quando, na
verdade, nunca se viu esforço tão rápido para encontrar
alguma que contenha a ação negativa do referido vírus.
Mas existe também a descrença nelas. É certo que, por
enquanto, por parte de um grupo que se deixa levar
pelo que deduz serem as promessas de vacinas com
falta de cautela das autoridades.

Ainda bem que a mídia, em geral, procura mostrar o
contrário e a ressaltar que, enquanto a vacina não
chegar, cada um de nós é responsável por atuar: que
fiquemos em casa é o refrão.

Refrão correto; mas o que fazer quando não se tem
casa confortável ou quando as pessoas vivem
amontoadas tanto em suas casas como com os
vizinhos, como se vê em muitas favelas, casas de
cômodos e cortiços que abrigam boa parte da
população brasileira? É para estas pessoas, a maioria
da população, que o governo precisa olhar em primeiro
lugar. E são estas as vítimas preferenciais do novo
coronavírus (sobretudo os mais velhos, para os quais o
"bichinho" parece ser impiedoso). Sabemos que no
início os mais atingidos eram os que viajavam ,que não
fazem parte da maioria pobre. Pouco a pouco, porém, a
epidemia foi se alastrando e alcança, é verdade que
sem exclusividade, os que menos têm posses e são
abrigados pelo

SUS (bendito SUS!).

Daí a enorme responsabilidade dos governos. No plano
estadual, alguns têm se saído bem; não se podería
dizer o mesmo, com simplicidade, sobre o governo
federal, pelo menos quando são ouvidas as palavras
proferidas por seu maior representante, o presidente.
Compreendo que ele não queira ver tudo pelo vitral do
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