Clipping Banco Central (2020-12-06)

(Antfer) #1

ELIO GASPARI - Júnior conhece a caixa-preta da saúde


Banco Central do Brasil

O Globo/Nacional - País
domingo, 6 de dezembro de 2020
Cenário Político-Econômico - Colunistas

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Autor: ELIO GASPARI


Nesta semana, o ministro Luís Roberto Barroso poderá
homologar a papelada da colaboração do empresário
José Seripieri Júnior, da Qualicorp, feita à Procuradoria-
Geral da República (PGR). Há mais de uma semana, a
repórter Bela Megale revelou que Júnior, como ele é
conhecido, concordou em pagar R$ 200 milhões à Viúva
pelas transações em que se meteu, alimentando caixas
de políticos. Em julho, ele passou três dias na cadeia, e
sua colaboração foi antecedida pela de um sócio.


Chegando a valer cerca de R$ 4 bilhões, a Qualicorp
tornou-se uma campeã organizando planos coletivos de
saúde. Como uma jabuticaba, ela nunca foi uma
operadora, mas Júnior tornou-se um bilionário
trabalhando num mercado onde se misturam capilés
para políticos que colocam jabutis nas leis e azeitam-se
promiscuidades com as agências reguladoras.


Finalmente, o Ministério Público acercou-se desse
mercado. A Lava-Jato chegou perto, mas distraiu-se.
Deltan Dallagnol, ex-coordenador da força-tarefa,
recebeu pelo menos R$ 580 mil fazendo palestras para


platéias da Unimed. Ele explicou que repassava os
valores a entidades filantrópicas.

Quando a colaboração de Júnior for conhecida, será
possível avaliar a sua profundidade. A operação Lava-
Jato começou com muito menos, pois nela o fio da
meada foi puxado a partir de um posto de gasolina que
lavava dinheiro. A memória da Qualicorp, ou de
qualquer grande operadora, guarda muito mais que
isso. Os procuradores de Curitiba puxaram os fios e deu
no que deu. A PGR está com o novelo na mão. Sabe-se
que negociou uma multa milionária, mas a questão está
também em outro lugar: na máquina desse mercado.

Pode-se dar de barato que a colaboração de Júnior
levará para a mesa alguns políticos, provavelmente
figurinhas fáceis de outros escândalos, alguns
confessos, ou notoriamente mentirosos. Pelo cheiro da
brilhantina, cairá na roda um doutor que queria cobrar
os serviços do SUS.

O valor da colaboração de Júnior poderá ser avaliada se
ela tratar do funcionamento da porta giratória pela qual
maganos saem do mercado e vão para as agências
reguladoras, ou fazem o caminho inverso, sempre
enriquecendo. Noutra vertente, pode-se vir a saber
como se enfiou um jabuti numa Medida Provisória de


  1. Ele reduzia o valor unitário das multas aplicadas
    pela Agência Nacional de Saúde Suplementar quando o
    volume passasse de certos limites. Em bom português:
    quem delinquir muito pagaria menos que quem
    delinquiu pouco. Dilma Rousseff vetou o jabuti. Trata-se
    de perguntar, ouvir, anotar o nome do magano e chamá-
    lo a depor. Se for o caso, remetê-lo à carceragem.


Seripieri Júnior fez todo o caminho do mercado,
conheceu suas vísceras e no ano passado começou a
montar uma empresa fechada. Nela, ao contrário das
operadoras que cobrem despesas com centenas de
médicos, laboratórios ou hospitais, as operadoras
fechadas têm suas listas e, sobretudo, seus hospitais.
Graças a isso, controlam seus custos e acabam
cobrando menos.
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