Clipping Banco Central (2020-12-06)

(Antfer) #1
Banco Central do Brasil

O Estado de S. Paulo/Nacional - Política
domingo, 6 de dezembro de 2020
Cenário Político-Econômico - Colunistas

fizeram parte do grupo tratamento.


Dividimos a nossa amostra em dois grupos: 1)
apoiadores de Bolsonaro (aqueles que o avaliam o
governo como bom ou ótimo). Esse grupo é formado
basicamente por eleitores que se autodesignam de
direita ou centro-direita; 2) opositores de Bolsonaro
(aqueles que o avaliam o governo como ruim ou
péssimo). Esse segundo grupo é predominantemente
formado por eleitores de esquerda e centro-esquerda,
mas também por eleitores de outras matizes ideológicas
que se frustraram com Bolsonaro.


Como pode ser observado na Figura 1, os apoiadores
do presidente, que ideologicamente seriam contrários a
políticas de transferência de renda, mostram suporte ao
programa Renda Cidadã. Entretanto, reagem de forma
muito mais positiva quando submetidos ao tratamento.
Em outras palavras, passam a avaliar melhor o
programa ao perceberem que tal política gera potenciais
ganhos eleitorais para o seu líder.


Por outro lado, respondentes que reprovam o
desempenho do governo Bolsonaro, sejam eles de
direita ou de esquerda, se opuseram ao Renda Cidadã
quando recebem o tratamento; ou seja, quando
recebem o texto com menção à frase do Presidente e
percebem os riscos de Bolsonaro se beneficiar
eleitoralmente do programa. Vale salientar que o efeito
negativo dos potenciais ganhos eleitorais do presidente
na avaliação negativa da política de transferência de
renda é mais forte entre aqueles eleitores de esquerda,
que a principio seriam favoráveis a políticas de proteção
social.


Medo da Morte. Um dos aspectos mais relevantes que
as rodadas anteriores da pesquisa capturou foi a
importância da proximidade de pessoas contaminadas
pela covid-19 com graus variados de gravidade
(ninguém, leve, grave e morte). Verificamos que quanto
maior a proximidade da morte, maior o apoio ao
isolamento social e maior a rejeição a Bolsonaro.


O experimento que realizamos nessa terceira rodada
nos permitiu analisar até que ponto o "medo da morte"


interfere na avaliação do programa de transferência
Renda Cidadã. Como pode ser verificado na Figura 2,
os respondentes mais próximos de pessoas que
desenvolveram covid-19 com gravidade e que vieram a
falecer reagiram mais negativamente ao programa de
transferência de renda quando receberam o tratamento
informacional polarizado que sugere que Bolsonaro
pode auferir benefícios eleitorais com o programa. Ou
seja, quanto maior o medo da morte, maior a rejeição ao
que pode fortalecer Bolsonaro.

Reeleição em 2022. O experimento que realizamos na
segunda rodada nos permitiu diferenciar dois grupos de
eleitores (identitários e pragmáticos) que votaram em
Bolsonaro em 2018. Foi possível identificar que os
eleitores com vínculos identitários com Bolsonaro
invariavelmente pretendem votar no presidente em


  1. Entretanto, a grande maioria dos pragmáticos se
    frustrou com Bolsonaro e só considera votar outra uma
    vez nele se for para evitar a vitória do PT ou de outro
    candidato de esquerda.


Como era de se esperar, a Figura 3 mostra que os
eleitores identitários pró-Bolsonaro passaram a apoiar
ainda mais políticas de transferência de renda quando
perceberam que o presidente poderia se beneficiar
eleitoralmente desta política. Por outro lado, os eleitores
que não votariam em Bolsonaro em nenhuma
circunstância em 2022 (anti-Bolsonaro) reduziram
significativamente o seu apoio a políticas de
transferência de renda quando receberam o tratamento.

Resultado mais surpreendente fica por parte dos
eleitores anti-esquerda, predominantemente formados
por eleitores pragmáticos de Bolsonaro, que foram
indiferentes aos potenciais ganhos eleitorais do
Presidente proporcionados pelo programa Renda
Cidadã. Ou seja, enquanto os grupos polares (anti e
pro-Bolsonaro) traem suas respectivas preferências
ideológicas em troca da maximização de seus vínculos
identitários/afetivos, os eleitores pragmáticos anti-
esquerda se mantiveram consistentes as suas
preferências não tendo sido substancialmente afetados
pela manipulação experimental. Isso acontece porque
esse grupo anti-esquerda é formado de pessoas que
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