Clipping Banco Central (2020-12-06)

(Antfer) #1

CELSO MING - O governo a reboque


Banco Central do Brasil

O Estado de S. Paulo/Nacional - Economia
domingo, 6 de dezembro de 2020
Banco Central - Perfil 1 - Reforma da Previdência

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Autor: CELSO MING


Este início de mês parece caracterizar-se pela criação
de fatos econômicos importantes por fatores externos à
política econômica propriamente dita.


Um deles é a vacina. Em que pesem as informações
parciais e desencontradas sobre a eficácia da fase final
de testes, a vacina contra a covid-19 está às portas. As
primeiras remessas não estarão disponíveis para toda a
população, mas o início da vacinação começará a
exercer efeitos econômicos e políticos mesmo antes
disso. Investimentos serão destravados, segmentos da
área de serviços poderão operar de maneira mais
próxima da normalidade, as viagens serão retomadas e
algumas incertezas em relação ao futuro, removidas.


Como já avançado por esta Coluna no dia 3, o
presidente Jair Bolsonaro não poderá tirar grande
proveito político da chegada da vacina porque até agora
só fez jogo contra. Sua imagem não está identificada
com ela. Ele negou a gravidade da pandemia,
recomendou remédios ineficazes, como a cloroquina e
hidroxicloroquina, desdenhou da vacina e vem tentando


torpedear a ação dos governadores comprometidos com
ela. É possível até que, nessa matéria, o Supremo
Tribunal Federal meta sua colher nesse caldeirão contra
o presidente. Ou seja, o acesso à vacina pela população
pouco ou nada contribuirá para que o presidente
Bolsonaro adquira poder de barganha política na busca
de outros objetivos do governo na área econômica.

Outra novidade com importantes consequências para o
jogo de poder e também para a política econômica é a
proposta de recondução do deputado Rodrigo Maia e do
senador Davi Alcolumbre para as presidências da
Câmara dos Deputados e do Senado Federal,
respectivamente.

Se o Supremo remover os obstáculos jurídicos para
essa recondução, o governo federal também perderá
influência na condução desse processo.

E, como as taboas do brejo sempre balançam conforme
o vento, esse fato poderá ter força suficiente para
reduzir o apoio do chamado Centrão, atual base política
do governo no Congresso.

Uma das consequências dessa nova relação de forças
poderá ser a de que as próprias mesas da Câmara e do
Senado tomem a iniciativa de colocar em votação
projetos de reforma, especialmente a tributária, como já
aconteceu anteriormente com a aprovação da reforma
da Previdência.

Nesse caso, caberá ao Ministério da Economia o
papel secundário de tentar adaptar alguns dos seus
objetivos aos projetos a serem examinados no
Congresso Nacional. O mesmo protagonismo do
Legislativo pode tornar-se importante em decisões de
política fiscal de maneira a garantir um Orçamento
federal mais equilibrado.

Durante muitos anos, os brasileiros se acostumaram a
ver que a primazia da condução da política econômica
partia sempre do Executivo.
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