Clipping Banco Central (2020-12-06)

(Antfer) #1

A escola dos meus sonhos (para 50 milhões de alunos)


Banco Central do Brasil

O Estado de S. Paulo/Nacional - Espaço Aberto
domingo, 6 de dezembro de 2020
Cenário Político-Econômico - Colunistas

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Autor: Cláudio de Moura Castro


Fico imaginando a minha escola ideal. Summer Hill?
Waldorf? Prep Schools, da Nova Inglaterra? Eton?
Lumiar? Mas o êxito dessas escolas depende de
condições muito especiais (lideranças carismáticas,
alunos, recursos, etc.). São filhas únicas e donzelas
delicadas.


O real desafio é inventar uma escola que seja boa e
possa ser reproduzida para os nossos 50 milhões de
alunos.


Aqui vão meus devaneios.


Para começar, a escola tem de ensinar menos, para
que os alunos aprendam mais. Um professor de
Matemática russo contou 27 tópicos na Matemática da
nossa 4.a série.


E encontrou 4 em Cingapura. Cortamos 23! Sem tempo
para aprofundar cada ponto, o aluno ouve falar de tudo
e não domina nada.

Ao estilo do movimento americano Foxfire, os alunos
mergulhariam na cultura e nas tradições dos locais onde
vivem. Começariam entrevistando os mais velhos. E
sempre buscando as pontes entre saberes locais e os
conhecimentos universais. Na esteira da Waldorf,
usariam as mãos para construir objetos do seu
cotidiano, tradicionais ou novos.

Não resisto ao impulso de falar de um americano que
sempre teve terríveis dificuldades com a Matemática.
Foi ser carpinteiro. A casa típica daquele país é feita de
madeira e sua planta requer alguns cálculos.

Ora, vejam, Matemática é assim? Isso eu entendi! Criou
então um programa (If I Had a Hammer) para escolas,
no qual os alunos desenham e constroem pequenas
casas. Semanas depois, as notas de Matemática dão
um salto.

De fato, a ideia de combinar ciência com tecnologia,
com engenharia e matemática (o chamado STEM)
permite aproximar as idéias mais teóricas das suas
aplicações no mundo real. E abre espaço para trabalhos
práticos. Estes seriam o ponto de partida para
aproximar-se, indutivamente, das idéias mais poderosas
do currículo. A Matemática pode começar na cozinha ou
no futebol.

O Português começa na descrição cuidadosa do que
estão fazendo com as mãos ou do que ouviram na rua.
É o início do longo caminho para a grande literatura.

E esse conjunto de atividades daria também o ensejo
para desenvolver os valores da civilização ocidental e
da modernidade. Não adianta ouvir sermões. O que
serve é viver situações que favoreçam esse
amadurecimento. Narrativas de experiências pessoais
são eficazes para caminhar nessa direção.
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