Clipping Banco Central (2020-12-06)

(Antfer) #1

Repressão ao novo cangaço fere imagem policial, diz professora


Banco Central do Brasil

Folha de S. Paulo/Nacional - Cotidiano
domingo, 6 de dezembro de 2020
Banco Central - Perfil 1 - Pix

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Autor: Rogério Pagnan


Estudiosa há 20 anos de grandes assaltos no Brasil,
Jânia Perla Diógenes de Aquino, diz que os ataques
ultraviolentos, como o de Criciúma (SC) e o de Cametá
(PA), não são coisa recente no país.


Antropóloga e professora da Universidade Federal do
Ceará, ela recorda que esses crimes já existiam no
Nordeste nos anos 1990, com os irmãos Carneiro, e
passaram a ganhar mais adeptos devido ao aumento de
medidas de segurança adotadas pelas instituições
financeiras desde os anos 2000, substituindo a
modalidade que incluía sequestros de parentes de
funcionários.


Pesquisadora do Laboratório de Estudo da Violência,
ela afirma que esse tipo de crime é prejudicial à imagem
das instituições de segurança pública. Mas segundo a
professora, o enfrentamento violento desses casos só
causa insegurança na população.


Está havendo um aumentando real desses roubos ou
estamos tendo mais informações? Acho que está


aumentando, de fato. Nesses dois seguidos, que
aconteceram em Criciúma e na região Norte, é muito
marcante o fato de terem ocorrido no início do mês. É
comum ter assalto a instituições financeiras exatamente
no dia em que vai ter pagamento a funcionário público,
aposentados, quando recebem malotes de dinheiro para
distribuir. Eu não trabalho com estatísticas, mas
visivelmente tem aumentado.

Porque tem aumentado? Durante os anos 2000,
predominava um tipo de abordagem que envolvia
sequestro das famílias de gerentes, tesoureiros. Era o
tipo de abordagem que evitava o confronto. Embora
tivesse assaltos convencionais, no final dos anos 1900 e
nos anos 2000 predominava essa abordagem. No
decênio amai, se disseminou o modo de atuação que
começou com cidades de pequeno e médio portes, no
Nordeste, e que se disseminou em todo o país. É o que
costuma ser chamado por delegados de polícia e por
uma parte dos jornalistas policiais de "novo cangaço".

Não concorda com esse termo? Não digo que seja
totalmente inadequado. Assim como nos grupos de
cangaceiros, você tem, com essas quadrilhas, uma
abordagem de confronto com as forças policiais, essa
abordagem que, ao invés de se esquivar do confronto, o
promove. Então, há essa busca pelo confronto que só
se viu e que ganhava repercussão no início do século
20, no Nordeste, norte de Minas, no fenômeno do
cangaço.

Quando esse 'novo cangaço começou? Ainda nos anos
1990, na região Nordeste, no Rio Grande do Norte, no
Ceará e em Pernambuco. Tem até um protagonismo
que pode ser apontado. Era uma quadrilha conhecida
como os Carneiros. Nos anos 90, tinha um programa
semanal na Globo que se chamava Linha Direta. Foi
feito um programa só para falar da atuação dessa
quadrilha que, naquele momento, de certa forma,
aterrorizava o Nordeste.

O método dos Carneiros já era assim? Eles foram
considerados pioneiros nessa modalidade de crime.
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