Clipping Banco Central (2020-12-06)

(Antfer) #1
Banco Central do Brasil

Folha de S. Paulo/Nacional - Cotidiano
domingo, 6 de dezembro de 2020
Banco Central - Perfil 1 - Pix

Tem um artigo, de um sociólogo de Natal, Edmilson
Lopes Júnior, que se chama "Os Cangaceiros Viajam de
Hilux". Ele mostra como essa família, ainda nos anos
1980, protagonizou no Rio Grande do Norte um ataque
a um avião pagador. Essa família interceptou e roubou o
carro pagador, que pegou o dinheiro do avião, e esse
dinheiro foi usado para financiar uma campanha
eleitoral no Rio Grande do Norte. Tudo isso nos anos
1980.


Por que os criminosos trocaram os sequestros pelo
confronto? A disseminação desses assaltos com
sequestro provocou muito investimento, tanto pelas
empresas de guarda de valores como pelos bancos. Por
mais que sequestrassem as famílias, os cofres não
iriam abrir. Iriam abrir em horário tal. Foram tomadas
providências para inviabilizar esse tipo de assalto.


O surgimento e fortalecimento do PCC nos anos 1990
contribuiu para isso? A disseminação do PCC acabou,
de certa forma, contribuindo para que se
disseminassem os assaltos pelo país. Você também
teve um crescimento da economia durante os anos
2000 e aí um alargamento das estruturas bancárias, a
quantidade de agência, a quantidade de caixas, dinheiro
circulando. Com isso, aumentou a quantidade de
assaltos e de pessoas envolvidas com assaltos.


É possível combater esse tipo de crime, ou a tendência
é só aumentar? Acabar, é difícil. Mas, por exemplo, o
Pix provavelmente vai reduzir a quantidade. Porque, se
as pessoas passarem realmente a fazer pagamento por
meio de celulares, você vai conseguir ter menos
quantias acumuladas nas agências e nas bases de
carros-fortes. Essa é uma das medidas das próprias
instituições financeiras. Outra, em que alguns estados
investem, é descentralizar [a força policial]. O que
acontecia até os anos 2000? Era concentração na
capital não só do efetivo [das polícias], mas das armas
[mais potentes], e o interior ficava mais desguarnecido.
É preciso capacidade de resposta rápida, a colaboração
intermunicipal. E também, é claro, investimento na
inteligência e investigação.


É melhor deixar os bandidos irem embora e tentar


prender depois? Prender depois também é difícil, mas
investir em tecnologias, em inteligência, e até investigar
quadrilhas que estão se articulando é uma alternativa
interessante.

Como fica, nesse cenário, a imagem das instituições
policiais? Tem na construção histórica da polícia uma
dimensão da guerra contra o bandido, de uma certa
masculinidade que porta armas. Essa imagem é
fortemente impactada com essas ações, porque tudo
aquilo a que de certa forma a polícia se associava
simbolicamente, são os bandidos que fazem. Essa coisa
subverte o que, de certa forma, a sociedade espera: a
polícia perseguindo bandido. Tem bandido perseguindo
as instalações das polícias, as viaturas.

Em 2018 e 2019 teve muito caso de confronto, em
Guararema (SP) foram 11 criminosos mortos, aqui no
Ceará teve 8 assaltantes e 6 vítimas. O que aconteceu?
Isso gerou ações de resposta, por vezes ações suicidas,
de determinadas equipes, ante o enfrentamento. Só que
a repercussão pública foi muito negativa. Ampliou ainda
mais a sensação de insegurança da população.

Jânia Perla Diógenes de Aquino Bacharel em ciências
sociais pela UFC (Universidade Federal do Ceará) e
doutora em antropologia social pela USR Professora do
programa de Pós-Graduacao em Sociologia da UFC.
Pesquisadora e membro do Conselho Deliberativo do
LEV (Laboratório de Estudos da Violência), em
Fortaleza

Assuntos e Palavras-Chave: Banco Central - Perfil 1 -
Pix
Free download pdf