Clipping Banco Central (2020-12-06)

(Antfer) #1

Aqui foi pior


Banco Central do Brasil

Folha de S. Paulo/Nacional - Opinião
domingo, 6 de dezembro de 2020
Cenário Político-Econômico - Colunistas

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Autor: Marcos Lisboa


A coluna de domingo gerou críticas. Alguns
questionaram os comentários acerca da segregação
nos EUA. Outros reagiram à frase sobre a convivência
racial em Atlanta. Como houve essas reações, melhor
explicar.


O texto foi motivado por declarações recentes de que
não haveria racismo no Brasil. Ao contar um trecho da
história americana, tentei fazer o contraponto. Apesar
do descalabro da segregação, os EUA ofereceram
acesso bem maior à educação para os negros do que o
Brasil.


Somente em20oo, por exemplo, o Brasil chegou a uma
razão negros/brancos alfabetizados que os EUA já
possuíam emi930. No fim dos anos 1990, pouco depois
do fim do apartheid, negros da África do Sul tinham três
anos amais de escolaridade do que pretos e pardos no
Brasil (David Lam, 2002).


A formação de uma elite negra, como afirmei, foi
fundamental para o movimento civil norte-americano


que pôs fim à segregação. Thurgood Marshall e Martin
Luther King se tornaram exemplos para as novas
gerações.

A coluna destacou uma cláusula da jurisprudência
americana na virada do século 20, "separados, mas
iguais", que ratificou a segregação. Usei o termo
"descalabro" para enfatizar a sua natureza abjeta. O
movimento negro, no entanto, utilizou, com inteligência
e persistência, essa cláusula para combater as barreiras
legais.

Nos anos 1930, T. Marshall argumentou que a formação
destinada às "pessoas de cor" no estado de Maryland
não oferecia educação com a mesma qualidade do
ensino reservado aos brancos, desrespeitando o
princípio de igualdade. O Judiciário concordou e
garantiu o acesso de negros à Universidade de
Maryland.

Em 1954, ele liderou o caso "Brown versus Comitê de
Educação" e convenceu a Suprema Corte que a
segregação, na prática, era inerentemente desigual e
deveria ser abolida em todas as escolas dos EUA.

Desde 1946, Atlanta era percebida como uma cidade
com convivência racial relativamente pacífica em
comparação ao restante do Sul americano (David
Harmon, 1996). Relativamente pacífica não significa
pacífica. Como escrevi, seguindo Harmon, a
segregação permeava a cidade e o movimento civil foi
fundamental para combatê-la.

A coluna destacou a resistência da elite em
homenagear King para apontar a persistência do
racismo nos EUA, mesmo depois de tantas barreiras
legais abolidas. Havia ameaças de supremacistas
brancos e, por essa razão, a polícia tomou cuidados
redobrados, atrasando-o para o jantar.

O risco era real. Três anos depois, ele foi assassinado.

A fina frase irônica de King, que conclui a coluna,
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