O Tempo (2020-12-07)

(Antfer) #1
¬RAFAELA MANSUR
¬Em um mercado que
abrange desde festas de 15
anos e casamentos a gran-
des festivais de música, os
danos provocados pela pan-
demia do coronavírus são,
ainda, inestimáveis. Uma
pesquisa realizada em outu-
bro pela Vai Rolar Evento,
plataforma de conexão en-
tre profissionais e empresas
de eventos e entretenimento
do país, mostra que 84% dos
profissionais do setor traba-
lharam presencialmente pe-
la última vez em março – ou
antes disso. Nesse período
de pandemia, 61% deles
não tiveram qualquer ocupa-
ção remunerada e estão de-
pendendo de auxílios finan-
ceiros do governo. Com o de-
creto da Prefeitura de Belo
Horizonte na última sexta-
feira, suspendendo o licen-
ciamento de shows, eventos
gastronômicos e espetáculos
e vetando a concessão de li-
cenças para festas de réveil-
lon, a expectativa do setor
na capital é de piora. Foram
ouvidas 450 pessoas com
idades entre 25 e 59 anos.
Segundo a pesquisa, um
terço das empresas de even-
tos do Brasil estão com as por-
tas fechadas, seja temporária
(28%) ou definitivamente
(4%). A maioria (68%) está
operando de forma reduzida,
e 4%, funcionando da mes-
ma forma de antes da pande-
mia. “As empresas estão com
quadros de funcionários redu-
zidos. A quebradeira deve
acontecer no próximo ano,
principalmente entre as de
pequeno porte, que não têm
caixa para se manterem tan-
to tempo paradas”, afirma o
idealizador da Vai Rolar Even-
to, Henrique Donnabella.
Ele defende que empresas
menores atuem em outros ra-
mos enquanto os eventos per-
manecem suspensos. “A gen-
te vê muitas pessoas fazendo
e vendendo bolo, comida,
saindo de suas áreas de atua-
ção, e as empresas têm que fa-
zer o mesmo”, avalia. Ainda
segundo a pesquisa, 46% dos
profissionais estão buscando
recolocação em outras áreas,
principalmente administra-
ção, comércio e marketing.
Em relação a 2021, as ex-

pectativas variam: 47% acredi-
tam que os eventos serão reto-
mados ainda no primeiro se-
mestre, enquanto para cerca
de 33% dos entrevistados o re-
torno deve ser na segunda me-
tade do ano. Para Donnabella,
a volta vai depender da vaci-
na, mas é possível retomar du-
rante a pandemia, com adap-
tações e profissionais prepara-
dos. Segundo o levantamen-
to, 80% dos entrevistados têm
interesse em fazer um curso
sobre protocolos de segurança
e higiene, mas metade ainda
não fez qualquer especializa-
ção nessas áreas. “Dá para co-
meçar a abrir de forma organi-
zada e criteriosa”, conclui.

SUFOCO. O dono de uma empre-
sa de aluguel de equipamentos
de luz e som para festas de BH
que não quis ser identificado
prestou o último serviço em
março e, desde então, vem so-
brevivendo com bicos e o auxí-
lio emergencial do governo.
“Não tenho uma estrutu-
ra grande, não pago aluguel,
então está dando para man-
ter. Também estou venden-
do alguns equipamentos, co-
mo alto-falante, microfone e
caixa de som, para pagar as
contas”, conta o profissional,
que atua na área há 35 anos.
“Já tive épocas boas e ago-
ra estou catando latinha. Não
estou otimista, acredito que
essa situação não vai se revol-
ver tão cedo. Acho que 2021
ainda vai ser um ano meio
perdido para quem trabalha
com eventos”, lamenta.

BH


Míriam Rios. Bufê já cancelou ou adiou cerca de 250 eventos, mas busca alternativas para se manter

Decretos de Belo Horizonte


Empresas


da capital


acumulam


prejuízos


7


Na casa de festas Mí-
riam Maia, em tem-
pos normais, eram realiza-
dos de seis a oito eventos
por mês – o último deste
ano foi em 14 de março.
Desde então, todas as festas
marcadas foram adiadas ou
canceladas, inclusive as pro-
gramadas para janeiro e fe-
vereiro de 2021. Para uma
das sócias, Janaína Míriam
Maia, um dos principais pro-
blemas é o fato de Belo Hori-
zonte proibir o funciona-
mento de casas de festas, ao
mesmo tempo em que cida-
des vizinhas, como Conta-
gem e Nova Lima, na região
metropolitana, permitem.
“Acho que seria coeren-
te se todos os municípios da
região mantivessem um pa-
drão: se for para fechar,
que todos fechem”, pontua.
Segundo Janaína, a empre-
sa tem seis funcionários,
com jornada reduzida. “Se
os eventos não forem reto-
mados logo, o número de
empresas que vão decretar
falência será muito alto”,
prevê.

CRIATIVIDADE. No Miriam
Rios Buffet, cerca de 250
eventos agendados foram
adiados ou cancelados na
pandemia. Segundo ela, co-
mo os cancelamentos ainda
estão acontecendo, não há
como calcular o tamanho
do prejuízo.
Para manter a empresa
funcionando, uma série de
ações foi desenvolvida, co-
mo uma carta de crédito pa-
ra clientes que não querem
mais fazer a festa, kits-festa
e promoções.
“Estamos aproveitando
esse período para melhorar
nossa casa com muitas novi-
dades, para que o nosso re-
torno seja melhor do que os
clientes imaginam. Não fica-
mos de braços cruzados. A
nossa expectativa é que,
com a vacina, os clientes
possam se sentir mais segu-
ros”, diz diretora do bufê,
Miriam Rios. (RM)

TRABALHADORES

EMPRESAS

EM CRISE
Veja dados da pesquisa com profissionais e
empresas de eventos:

84% trabalharam presencialmente pela última
vez em março ou antes disso
61% não tiveram ocupação remunerada e vivem
de ajuda do governo
46% buscam recolocação em outras áreas
47% acreditam que os eventos serão retomados
até junho de 2021

1/3 das empresas de
evento do Brasil estão
fechadas:
28% temporariamente e
4% definitivamente

68% delas operam
de forma reduzida e 4%
funciona com a mesma
estrutura de antes da
pandemia

O ESTUDO FOI REALIZADO EM OUTUBRO, EM TODO O PAÍS, COM 450
ENTREVISTADOS ENTRE 25 E 59 ANOS
FONTE: PESQUISA FEITO PELO APLICATIVO VAI ROLAR EVENTO

EDITORIA DE ARTE / O TEMPO

Sustento. Levantamento mostra ainda que 84% trabalharam presencialmente pela última vez em março


Com a pandemia, 1/
das empresas do
setor estão fechadas;
expectativa é de piora

CRISTIANE MATTOS

Pesquisa: 61% dos profissionais


de eventos vivem só de auxílios


0 Autorização. Em Belo
Horizonte, o prefeito
Alexandre Kalil chegou a
liberar espetáculos, shows e
eventos em 31 de outubro,
com uma série de restrições,
como a capacidade limitada a
50% dos assentos e público
máximo de 600 pessoas.

0 Fechados. No entanto, na
última sexta-feira, com o
aumento do número de casos
da doença e também da
ocupação dos leitos em toda
a cidade, um decreto do
município suspendeu o
licenciamento dos eventos. Já
as casas de festas e eventos
da capital não chegaram a ser
liberadas em nenhum
momento neste período de
pandemia do novo
coronavírus, desde março.

0 Insuficiente. O presidente
da Associação Mineira de
Eventos e Entretenimento
(Amee), Rodrigo Marques,
argumentou que, mesmo com
a liberação por um período,
houve poucos shows em Belo
Horizonte, porque a limitação
de 600 pessoas acaba não
“pagando a conta” da
organização. Para ele, tanto
eventos menores, como festas
de casamento e formaturas,
quanto shows poderiam ser
realizados, com restrições.
“Respeitamos a decisão do
prefeito e dos médicos,
porque eles têm um
conhecimento que nós não
temos, mas estamos nos
preparando para essa
retomada há nove meses, os
nossos critérios são muito
rigorosos”, afirma.

CORONAVÍRUS O TEMPOBELO HORIZONTE| SEGUNDA-FEIRA, 7 DE DEZEMBRO DE 2020 | 11


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