O Tempo (2020-12-07)

(Antfer) #1
Apreensões de cocaína
(em kg) pela Receita
Federal nos últimos anos

O nome da operação Enterprise, que, traduzido do
inglês, significa “empreendimento”, faz alusão à
grandeza da organização criminosa

DIMENSÕES


PRISÕES
Brasil 38
Bélgica 4
Espanha 1
Emirados Árabes 2

DINHEIRO
Mais de 12,
milhões de euros
apreendidos na
Europa e R$ 1
milhão no Brasil
FONTE: PF E RF

2011
2012
2013
2014
2015
2016
2017
2018
2019

zaçã
856
793
2.
958
2.
15.
18.

31.
57.

VEÍCULOS
70 veículos de luxo
apreendidos e 37
aeronaves

IMÓVEIS
163 casas apreendidas
no Brasil com valor
superior a R$ 132
milhões e quatro imóveis
na Europa no valor total
de 6,5 milhões de euros

EDITORIA DE ARTE / O TEMPO

¬RAFAELA MANSUR
¬Uma organização crimi-
nosa de tráfico de drogas de
alcance internacional, espe-
cializada no envio de cocaí-
na para a Europa, foi des-
mantelada na última sema-
na na maior operação de
apreensão do entorpecente
da história, realizada pela
Polícia Federal em conjunto
com a Receita Federal e
com o apoio da agência poli-
cial europeia, a Europol. Ba-
tizada de Enterprise, a ope-
ração revelou a grandeza do
esquema e o profissionalis-
mo dos criminosos, que exe-
cutavam desde a compra da
droga em vizinhos sul-ame-
ricanos até a exportação pa-
ra países do outro lado do
Atlântico e realizavam uma
sofisticada lavagem de di-
nheiro, a fim de dar aparên-
cia lícita ao lucro do tráfico,
o que chamou a atenção das
autoridades. Elas ressaltam
que os grandes líderes do cri-
me não estão na periferia, e
sim nas elites.
Segundo a PF, o alvo da
operação é uma das maiores
organizações criminosas em
atuação no país. O grupo im-
portava a droga de países co-
mo Bolívia e Paraguai em
aviões, armazenava o mate-
rial em espaços espalhados
por diversos Estados do país,
e, depois, tudo era transpor-
tado em caminhões até os
portos de Santos (SP), Natal
(RN) e, principalmente, Pa-
ranaguá (PR). Os entorpe-
centes eram, então, exporta-
dos para Europa e África.
As investigações come-
çaram em 2017. “A partir
de março de 2018, demos
início a medidas cautela-
res, como interceptação te-
lefônica e quebra de sigilo
bancário, o que nos fez cres-
cer bastante na investiga-
ção. Conseguimos identifi-
car o principal alvo, um bra-
sileiro que vive na Europa
há muito tempo e possui
um patrimônio gigantes-
co”, afirma o chefe do gru-

po de investigações sensíveis
da PF, delegado Sérgio Luís
Stinglin de Oliveira.
O líder é o ex-policial mili-
tar Sérgio Roberto de Carva-
lho, 62, que continua foragido
e está na lista de procurados
da Interpol. Ele morava em
uma casa avaliada em 2,2 mi-
lhões de euros na Espanha, ti-
nha dois apartamentos em
Portugal e uma empresa nos
Emirados Árabes.
Nos três anos de investiga-
ção, mais de 50 toneladas de
cocaína ligadas à organização
criminosa foram apreendidas,
no Brasil e no exterior. Mas o
delegado da Polícia Federal El-
vis Secco, coordenador nacio-
nal de repressão a drogas, ar-
mas e facções criminosas, res-
salta que a organização crimi-
nosa era tão grande e articula-
da que, apesar da quantidade
significativa de droga tomada,
os investigados ficaram ainda
mais ricos no período.
“No crime organizado, so-
bretudo no tráfico, os grandes lí-
deres não estão na periferia, es-
tão na elite, financiando outros
crimes. O tráfico de drogas não
pode mais ser encarado como
mera apreensão de caminhonei-
ro carregando droga. Nós temos
um recorde histórico de mais de
50 toneladas de cocaína apreen-
didas em portos do Brasil, da Eu-
ropa e da África, e, mesmo as-
sim, essa organização criminosa
se enriquece e se robustece, es-
tendeu seus braços comprando
dezenas de aeronaves, com di-
nheiro em espécie em automó-
veis, passaportes falsos, mobili-
dade pela Europa e América. Tu-

do isso tendo perdido 50 tonela-
das de cocaína”, diz Secco.
A organização criminosa
atuava também na lavagem
de dinheiro, com o objetivo
de dar aparência legal aos re-
cursos ilícitos provenientes
do tráfico de drogas. “A lava-
gem de dinheiro é sofistica-
da, eles conseguem colocar
valores no mercado, em em-
presas grandes, na compra e
venda de imóveis e veículos
e no investimento em empre-
sas que estão em recupera-
ção judicial. O que importa-
va para eles era lavar o di-
nheiro”, diz o chefe do grupo
de investigações sensíveis da
PF, delegado Sérgio Luís
Stinglin de Oliveira. A opera-
ção Enterprise, deflagrada
contra a organização crimi-
nosa no último dia 23, resul-
tou no sequestro de bens do
tráfico avaliados em aproxi-
madamente R$ 1 bilhão.

7


O advogado Rafael
Chamoun, 35, que
atua em Ituiutaba, no Triân-
gulo Mineiro, foi um dos
presos na operação Enter-
prise. Ele também foi alvo
de dois mandados de busca
e apreensão, cumpridos na
casa e no escritório dele. A
Polícia Federal não infor-
mou qual a suspeita sobre
Chamoun, mas o advogado
dele, Robson Luiz Silva Fi-
lho, disse que a defesa já
protocolou na Justiça um
pedido de prorrogação da
prisão preventiva.
“Nosso cliente nega en-
volvimentos nos supostos
crimes apurados pela ope-
ração Enterprise. É um in-
quérito muito grande, com
muitos investigados, são
vários crimes, não foi atri-
buído nada especificamen-
te a ele. Fizemos o pedido
da revogação porque, no
nosso entendimento, não
existem os requisitos da pri-
são preventiva”, afirmou
Silva Filho. (RM)

Análise Membro


7


7


Para o combate ao cri-
me organizado, são ne-
cessários investimentos em
várias frentes, na avaliação
do analista criminal e mem-
bro do Fórum Brasileiro de
Segurança Pública (FBSP)
Guaracy Mingardi: a apreen-
são de drogas, a prisão de li-
deranças, a captura do di-
nheiro das organizações e o
fechamento das rotas do
tráfico são algumas das

ações, que devem ser realiza-
das de forma conjunta. Se fei-
tas de maneira isolada, o re-
sultado é pouco eficaz.
“Se a polícia apreende
um caminhão e prende o
motorista, causa um baque
financeiro, mas não é tão
grande. Com R$ 200 mil,
eles conseguem ir para o Pa-
raguai ou Bolívia, comprar
cocaína, trazer e capitali-
zar de novo. No PCC, por

exemplo, as lideranças es-
tão presas. Se um líder é pre-
so, outro é nomeado no dia
seguinte, pode não ter mui-
to significado prático”, diz
o analista.
Para Mingardi, é preciso
desabastecer o mercado inter-
no de drogas. “Existem mui-
tas organizações criminosas,
e a polícia tem cobertor cur-
to: se cobre a cabeça, desco-
bre os pés. A prioridade deve
ser para as mais violentas e
que traficam coisas mais pesa-
das”, pontua.
Segundo o professor de
administração da FGV Rafael
Alcadipani, membro da
FBSP, de forma geral, a guer-
ra às drogas não funciona. O
especialista defende a regula-
ção do mercado, com a legali-
zação do uso da maconha e a
descriminalização do uso de
cocaína. “Outro aspecto é me-
lhorar as condições de vida
de jovens da periferia, que
servem de mão de obra bara-
ta para organizações crimino-
sas. Onde o Estado não está,
o crime está”, conclui o pro-
fessor. (RM)

É preciso ter ações conjuntas


Drogas. Delegado da PF diz que operação Enterprise mostra o profissionalismo e os lucros do tráfico internacional


Quadrilha leva
drogas do Brasil
para a Europa e
movimenta bilhões

RECEITA FEDERAL/DIVULGAÇÃO/23.11.

Esquema gigante. Operação Enterprise apreendeu carros luxuosos, mansões e cerca de R$ 1 bilhão

“Grandes líderes do crime estão


nas elites, e não nas periferias”


Advogado


mineiro


foi preso


Protesto no Estado do Rio
Familiares e vizinhos de Rebeca Beatriz Rodri-
gues dos Santos, 7, e Emilly Victoria Silva dos
Santos, 4, mortas a tiros em Duque de Caxias,
na Baixada Fluminense, se reuniram ontem em
protesto, no qual reforçaram acusações de que
os disparos foram efetuados por policiais.

7 Policiais militares mortos
Dois policiais militares foram mortos durante
assaltos neste fim de semana na Baixada Flumi-
nense, mesma região onde as primas Rebeca e
Emilly foram baleadas na noite de sexta, os ca-
bos Derinaldo Cardoso dos Santos, 34, e Dou-
glas Constantino Barbosa, 37.

14 | O TEMPOBELO HORIZONTE|SEGUNDA-FEIRA, 7 DE DEZEMBRO DE 2020


Brasil


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