O Tempo (2020-12-07)

(Antfer) #1
“Recital Mineiro”. Celso Faria diz que disco preenche lacuna na discografia de violão brasileira

¬ANA CLARA BRANT
¬O violão sempre esteve
presente na trajetória do
músico mineiro Celso Fa-
ria, 41. Natural de Passos,
no sul do Estado, ele come-
çou a tocar aos 10 anos co-
mo autodidata, mas aca-
bou se formando como ba-
charel em violão na Escola
de Música da Universida-
de Federal de Minas Ge-
rais (UFMG).
Não só o instrumento de
cordas, mas também a
música brasileira se tornou
uma grande paixão do artis-
ta, que é ainda um pesquisa-
dor da área. E foi através
dessas buscas no universo
musical que ele acabou se
deparando com um verda-
deiro tesouro: obras-prima
de dois compositores, o be-
lo-horizontino Carlos Alber-
to Pinto Fonseca (1933-
2006) e o belga naturaliza-
do brasileiro Arthur Bos-
man (1908-1991).
Celso Faria gravou “Os
Sete Estudos Brasileiros”,
de Fonseca, e a “Suíte Bra-
sileiras”, de Bosmans, pa-
ra seu mais recente traba-
lho, o álbum “Recital Mi-
neiro” (selo independen-
te) lançado recentemente.
“Esse disco é fruto de um
trabalho de longos anos
no qual eu pesquiso o re-
pertório para violão clássi-
co em Minas Gerais. Essa

pesquisa tem a finalidade
de ampliar o repertório mos-
trando pelo menos uma par-
te daquilo que foi composto
no Estado”, ressalta.

INEDITISMO. Apesar de te-
rem sido compostas em Belo
Horizonte na primeira meta-
de da década de 70, é a pri-
meira vez que “Os Sete Estu-
dos Brasileiros”, de Carlos Al-
berto Pinto Fonseca, e a suíte
“Brasileiras”, de Arthur Bos-
mans, estão registrados fono-
graficamente de forma inte-
gral. Segundo Celso, as duas
obras dialogam fortemente
com alguns exemplares de re-
conhecido sucesso na litera-
tura para o instrumento co-
mo “Os Doze Estudos” e a suí-
te “Popular Brasileira”, de
Heitor Villa-Lobos (1887-
1959), os “Estudos Simples”,
do cubano Leo Brouwer
(1939), e a suíte “Composte-
lana” do espanhol Federico
Mompou (1893-1987).

Um aspecto curioso é o
fato de tanto Pinto Fonseca
quanto Bosman não serem
violonistas e, apesar disso,
terem criado verdadeiras
preciosidades para esse ins-
trumento. “Isso é o que
mais me chama a atenção,
mas, mesmo assim, ambos
conseguiram criar excelen-
tes obras tanto do ponto de
vista musical, esteticamen-
te falando, quanto do pon-
to de vista instrumental.
São peças difíceis, mas são
possíveis. Esse é um ponto
muito interessante; eles
construíram obras de con-
certo, obras difíceis, mas
nunca colocaram a mão no
violão. Apenas imagina-
ram, e a imaginação deles
estava certa”, analisa.
O disco ainda não está
disponível nas plataformas
digitais, mas seu formato
físico está à venda nas lojas
Discoplay (rua dos Tupis,
70, centro) e Acústica (rua
Fernandes Tourinho, 300,
Savassi) e também nas re-
des sociais (Facebook e Ins-
tagram) de Celso Faria.
“Acho que o grande mérito
desse projeto é que, além
do resgate de duas obras-
primas, o álbum vem preen-
cher uma importante lacu-
na na discografia de violão
brasileira e mais especifica-
mente na discografia minei-
ra”, celebra.

“Natureza”


¬PATRÍCIA CASSESE
¬Foi logo após o lançamen-
to de seu primeiro disco - um
EP independente (2016)-
que o produtor Fabrício Gal-
vani instigou a cantora Gisel-
le Couto a já ir pensando em
um disco ‘cheio’' - com mais
faixas. Semente plantada,
vieram os tradicionais pro-
cessos de escolha de repertó-
rio e de parceiros, entrada
no estúdio para gravação...
Concluído, o disco tinha
previsão inicial de lançamen-
to para o primeiro semestre
de 2020, mas com a pande-
mia tudo mudou. “Preferi-
mos dar um tempo, mesmo
porque, naquele momento


não tínhamos respostas,
perspectivas de como as coi-
sas ficariam. Aguardamos
um pouco, mas, agora, a gen-
te entendeu que chegou a ho-
ra de o disco vir ao mundo”,
diz a artista, que lançou o
projeto no dia 2 de dezem-
bro, Dia Nacional do Samba.
O álbum de inéditas, “Na-
tureza”, reverencia a ances-
tralidade, elementos natu-
rais, e claro, o próprio sam-
ba. A Thiago Delegado cou-
be a incumbência de se res-
ponsabilizar pelos arranjos e
pela direção musical. A sele-
ção do repertório foi feita de
modo muito orgânico, conta
Giselle. “Eu tinha uma com-

posição minha, que se cha-
ma ‘Linha das Águas’, que
não entrou no EP. Agora, foi
exatamente ela que foi nor-
teando as minhas escolhas
para o trabalho. Mas acho
que o maior crivo foi uma
questão pessoal, uma busca
interior muito forte e uma de-
cisão mesmo de entrar para
dentro de mim, de me conhe-
cer, reafirmar valores, bus-
car o que é verdadeiro. E aí
vem essa história da nature-
za, que é permeada de ances-
tralidade e de coisas naturais
do ser humano”, explica.
O disco traz faixas de ta-
rimbados sambistas brasilei-
ros, como Toninho Geraes e

Moyseis Marques, além de ex-
poentes da nova geração, co-
mo Marina Sena (Rosa Neon)
e Clara Delgado. "Última Cha-
mada”, por exemplo, é uma
parceria de Márcio Borges e
Thiago Delegado. “É uma fai-
xa muito importante para to-
da a equipe do disco. Mas pa-
ra mim é ainda mais especial,
pois digo que é um presente
que estou dando a meus an-
cestrais, meus guias e orixás.
Sinto uma energia muito for-
te e muito bonita nessa can-
ção, e muita gratidão tam-
bém. É a minha fé. Ah, e não
posso deixar de falar da parti-
cipação especialíssima do
(Sérgio) Pererê (nela)”, frisa.

Giselle Couto celebra o samba e


a ancestralidade em novo álbum


Disco explora a musicalidade e a potência vocal de Giselle

ALEXANDRE REZENDE/DIVULGAÇÃO

Música


Violonista Celso Faria lança disco com obras-primas dos compositores Carlos Alberto Pinto Fonseca e Arthur Bosmans


A descoberta de uma relíquia


FOCA LISBOA/DIVULGAÇÃO

Lançamento


“Recital Mineiro” (selo
independente)
Violonista Celso Faria
12 faixas
Obras de Carlos Alberto
Pinto Fonseca e Arthur
Bosmans
Preço médio: R$ 20

MAGAZINE O TEMPOBELO HORIZONTE| SEGUNDA-FEIRA, 7 DE DEZEMBRO DE 2020 | 23


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