O Tempo (2020-12-07)

¬ALINE PEREZ

¬Antes do ônibus de turis-

mo cair do viaduto chama-

do “Ponte Torta”, na

BR–381, em João Monleva-

de, na região Central, na úl-

tima sexta-feira, ele fez

uma parada em Jeremoa-

bo, na Bahia, para a troca

de uma peça. O motorista

teria tentado omitir a infor-

mação dos passageiros, se-

gundo relatos de uma das

sobreviventes da tragédia,

que deixou 19 mortos. Na

noite do acidente, 26 pes-

soas ficaram feridas; des-

sas, 11 permaneciam inter-

nadas ontem.

Luana Costa da Silva,

24, contou que os passagei-

ros só perceberam que o veí-

culo estava passando por

uma manutenção quando

desceram para conferir o mo-

tivo da demora na parada.

Ela revela que isso cau-

sou estranheza entre os pas-

sageiros. “Ficamos sem en-

tender o motivo da parada

porque não estava na progra-

mação. Eles (os motoristas,

sendo um reserva) falavam

que iam comprar uma cor-

reia para levar para outro

ônibus, mas acabou que essa

troca foi no próprio ônibus.

Daí, começamos a ficar preo-

cupados. Como um ônibus

saiu de Alagoas com uma pe-

ça irregular?”, disse Luana,

sem detalhar que tipo de cor-

reia foi substituída.

Ainda segundo ela, pou-

co tempo antes do acidente,

o ônibus fez uma breve para-

da para os passageiros lan-

charem e, na sequência, pa-

raria novamente em Belo

Horizonte para o almoço.

“Eu estava dormindo, e meu

irmão, que viajava ao meu

lado, me acordou dizendo

que o ônibus tinha batido na

traseira de um caminhão.

Foi tudo muito, muito rápi-

do. Eu acordei, vi o motoris-

ta abrir a porta dizendo que

faltou freio. Nesse momen-

to, já estávamos subindo a la-

deira. Ele pulou e deixou o

ônibus descer de ré. Eu, en-

tão, corri, gritei pelo meu ir-

mão e pulei para fora do veí-

culo também. O Lázaro mor-

reu”, revelou ontem à repor-

tagem, em meio ao choro.

Ela completou que, de-

pois de pular do ônibus ain-

da em movimento, viu o veí-

culo caindo. “Eu só pensava

no meu irmão e mais nada.

Quando estávamos na ponte

vendo o ônibus cair, o moto-

rista gritou: ‘O que é que eu

fiz?’. Estávamos todos muito

assustados. Quando procura-

mos por ele (o condutor), já

não estava mais lá. Tinha ido

embora”, ressaltou Luana.

FÉRIAS. Desde sábado, Luana

está em Belo Horizonte e, on-

tem à tarde, aguardava a libe-

ração do corpo do irmão no

Instituto Médico-Legal

(IML), na Gameleira, na re-

gião Oeste. Ela sofreu só um

arranhão no braço, e a ferida

maior, agora, é a perda do ir-

mão Lázaro Santos Barbosa,

15. A viagem de Luana come-
    çou em Santa Brígida, na Ba-
    hia, e o destino seria a cidade
    de São Paulo, onde morava. O
    irmão dela a acompanhava pa-
    ra passar férias.

Empresas se

manifestam

após tragédia

FLAVIO TAVARES

JOÃO GODINHO

¬“A família Localima está

muito chocada e abalada com

o terrível acontecimento, so-

mos pessoas honestas e traba-

lhadoras”, declarou a empre-

sa Localima, responsável pe-

lo ônibus, por meio de nota. A

empresa alega que pagava se-

guro e outras obrigações à JS

Turismo para a prestação de

serviço até outubro de 2021.

A JS informou que apenas

arrendou o ônibus para a Lo-

calima até outubro deste ano,

quando desfez o contrato. Po-

rém, a Localima não teria tira-

do o adesivo da JS do vidro.

Tragédia. Ônibus que caiu de viaduto na BR–381, em João Monlevade, teve peça substituída na Bahia

Luana Costa pulou

do veículo antes da

queda, mas perdeu

irmão de 15 anos

Motorista parou para trocar

correia, revela sobrevivente

Onde está?

Condutor do ônibus

ainda está sumido

7

O motorista do ônibus

da tragédia na BR–381

ainda não havia sido localiza-

do pela Polícia Civil até o fe-

chamento desta edição. Re-

presentantes da empresa Lo-

calima, responsável pelo veí-

culo, disseram que não tive-

ram contato com ele e não

quiseram passar mais deta-

lhes sobre o condutor. Passa-

geiros acreditam que ele te-

nha entrado em outro ôni-

bus e fugido.

Houve a confirmação ape-

nas de que o nome dele é Luiz

Viana. O motorista foi uma

das pessoas que saltou do ôni-

bus antes da queda.

Uma das passageiras. Elia-

ne Guerra, 55, que costuma-

va pegar o ônibus para visitar

familiares em Alagoas, con-

tou que foi a primeira a perce-

ber o perigo e pular. Ela acre-

dita que o condutor tenha en-

trado em outro ônibus. “Ele

parecia conhecer outros mo-

toristas e como que desapare-

ce desse jeito?”, questionou.

(Natália Oliveira/Felipe

Castanheira)

Abrigados

Capital. Luana Costa da

Silva e outros sobreviven-

tes estão abrigados na

Academia de Polícia Civil

(Acadepol), em Belo Hori-

zonte, onde são assisti-

dos por agentes da Defe-

sa Civil e pela polícia.

Luana Costa estava ontem no IML para liberar corpo do irmão

Acidente. Veículo que seguia de Alagoas para São Paulo caiu de uma altura de 23 m; 19 pessoas morreram

26 | O TEMPOBELO HORIZONTE|SEGUNDA-FEIRA, 7 DE DEZEMBRO DE 2020 CIDADES

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