O Tempo (2020-12-07)

(Antfer) #1

Antídoto


¬BRASÍLIA. O presidente Jair
Bolsonaro (sem partido) co-
meçou a discutir um plano
B diante das dificuldades
de o líder do PP, Arthur Lira
(AL), se viabilizar para a
disputa do comando da Câ-
mara dos Deputados.
A tentativa do mandatá-
rio é encontrar uma alterna-
tiva para derrotar o grupo
do atual presidente da Ca-
sa, Rodrigo Maia (DEM-
RJ), sem a necessidade de
fazer concessões no primei-

ro escalão da Esplanada dos
Ministérios.
O principal receio de Bol-
sonaro é que Maia decida dis-
putar a reeleição, caso o Su-
premo Tribunal Federal per-
mita a sua candidatura. Mais
do que eleger seu candidato,
o objetivo do presidente é im-
pedir que o deputado seja re-
conduzido. O STF começou a
julgar na última sexta-feira a
possibilidade de reeleição de
Maia e de Davi Alcolumbre
(DEM-AP) às presidências da
Câmara e do Senado dentro
da mesma legislatura.
Em conversas na semana
passada com assessores pala-
cianos, o presidente Bolsona-
ro avaliou nomes, inclusive

da equipe ministerial, que
poderiam agregar mais apoi-
os na disputa na Câmara.
Segundo relatos feitos ao
jornal “Folha de S.Paulo”, fo-
ram defendidos ao presiden-
te os nomes dos ministros Fá-
bio Faria (Comunicações) e
Tereza Cristina (Agricultu-
ra). Os dois têm mandato
parlamentar e estão licencia-
dos: o primeiro pelo PSD e a
segunda, pelo DEM.
Além deles, auxiliares pa-
lacianos citam um eventual
apoio ao presidente nacional
do MDB, deputado federal Ba-
leia Rossi (SP) – hoje no gru-
po de Maia. O parlamentar
tem uma boa relação com o
ministro da Secretaria de Go-

verno, Luiz Eduardo Ramos.
A execução de um plano
B, porém, enfrenta dificul-
dades. Faria já avisou a Bol-
sonaro que não tem interes-
se neste momento em dispu-
tar a presidência da Câma-
ra. Entusiastas do nome do
ministro, porém, disseram
acreditar que ele pode mu-
dar de ideia caso seu nome
se mostre viável.
A discussão de uma alter-
nativa para o embate legisla-
tivo, marcado para feverei-
ro, teve início após Bolsona-
ro ter manifestado incômo-
do com a postura de Lira. Se-
gundo relatos de integrantes
do Executivo e do Legislati-
vo, o deputado tem cobrado

empenho do presidente à
sua candidatura.
Em conversa recente, re-
latada ao jornal “Folha de
S.Paulo”, Lira sugeriu que,
se o governo não entrasse
de cabeça em sua candidatu-
ra, ele teria de buscar votos
em partidos de oposição. E,
em busca de alianças, in-
cluir pontos defendidos por
legendas de esquerda em
sua campanha.
A sinalização desagradou
o presidente e ministros pala-
cianos, que, somada à dificul-
dade de Lira em conseguir
apoio, passaram a avaliar no-
vos cenários para a disputa.
Maia tem repetido a depu-
tados aliados que, mesmo

que o STF autorize a sua ree-
leição, ele não pretende dis-
putá-la. O Planalto, no en-
tanto, tem dúvidas.
Caso ele não entre na
disputa, a ideia é que Bolso-
naro não coloque a sua digi-
tal de maneira explícita na
eleição legislativa. Em um
cenário com a candidatura
de Maia, a estratégia discu-
tida é diferente.
Na tentativa de impedir
a reeleição, assessores pala-
cianos defendem que o pre-
sidente ofereça cargos no
primeiro escalão em busca
de apoio ao seu candidato.
Aliados de Lira têm ofereci-
do postos a deputados em
troca de votos.

Articulação Entenda


ALAN SANTOS/PR - 27.10.

Tereza Cristina foi citada como alternativa ao nome de Lira

Reforma ministerial


pode ser antecipada


7


BRASÍLIA. Com a pressão
do centrão por cargos
de primeiro escalão, o presi-
dente Jair Bolsonaro foi
aconselhado por ministros
militares a antecipar para ja-
neiro a reforma ministerial.
A ideia é tentar se blindar da
ofensiva do bloco partidário.
Caso o cenário sem Rodri-
go Maia se concretize, o que
é avaliado como o mais pro-
vável, ministros consideram
que não será necessário en-
tregar dedos e anéis para ele-

ger o candidato do governo.
Assim, para evitar pressão do
centrão, Bolsonaro pode an-
tecipar a reforma ministerial.
Inicialmente, o presiden-
te cogitava fazer uma troca
de cadeiras após a eleição na
Câmara, como forma de aco-
modar o grupo que sair ven-
cedor da disputa. Irritado
com as cobranças por espa-
ço, porém, considera reali-
zá-la agora em janeiro, po-
dendo fazer nova mudança
após a eleição.

KLEYTON AMORIM/UOL/FOLHAPRESS - 4.12.

Arthur Lira pediu que governo se empenhe em sua candidatura

Câmara. Objetivo de Bolsonaro é eleger aliado e impedir que grupo de Rodrigo Maia mantenha o posto


Planalto teme ter
que entregar cargos
para garantir vitória
de líder do PP

Presidente avalia plano B caso


Lira não consiga se viabilizar


7


BRASÍLIA. A possibilidade
de o Supremo Tribunal
Federal permitir a reeleição
para o comando do Congres-
so (leia mais na página 5),
abre caminho para que o pre-
sidente da Câmara, Rodrigo
Maia (DEM-RJ), assuma a
candidatura especulada nos
bastidores e consolide o
apoio de partidos de esquer-
da em torno de seu nome, o
que pode ser decisivo. O ad-
versário mais forte é Arthur
Lira (Progressistas-AL), um
dos líderes do centrão e alia-
do do Planalto.
Enquanto Maia está proi-
bido de concorrer, são cinco
os nomes do centro que dis-
putam a vaga de candidato

do seu grupo. Baleia Rossi
(SP), líder do MDB e presi-
dente do partido; Marcos Pe-
reira (SP), presidente do Re-
publicanos e nome mais for-
te na bancada evangélica; Lu-
ciano Bivar (PE), presidente
do PSL, antigo partido de
Bolsonaro; e Elmar Nasci-
mento (BA), líder do DEM.
Aguinaldo Ribeiro (PP-
PB), líder da maioria e fiel
aliado do presidente da Câ-
mara, também é candidato,
embora seu partido tenha fe-
chado com Lira.
Parte deles pressiona pa-
ra que um seja escolhido na
semana que vem, mas Maia
adia, seguindo no comando
processo sucessório. Motivo:

a oposição só aceita se unir
ao atual presidente da Casa.
Os idealizadores do bloco
buscam o apoio de PV, Rede,
PSB, PDT, PCdoB, PT e
PSOL, o que daria liderança
folgada para manter o co-
mando da Câmara. São 137
votos na mesa. As negocia-
ções com essas siglas de es-
querda estão avançadas,
mas há desconforto em fe-
char uma aliança no primei-
ro turno.
A esperança de Maia é a
de ter, com a esquerda, cerca
de 330 votos, suficientes pa-
ra vencer a eleição em pri-
meiro turno, sem correr ris-
cos de levar a disputa a um
segundo escrutínio.

Apoio da esquerda é cobiçado


ISAC NÓBREGA/PR - 18.11.

Fábio Faria teve o nome especulado, mas diz não ter interesse

0 Importância. O
presidente da Câmara é
quem decide o que será
votado em plenário, pode
barrar os projetos de
interesse do governo e
inicia processos de
impeachment contra o
presidente. O eleito também
se torna o terceiro na linha
sucessória do país.

0 Imprevisível. Eleições do
Legislativo costumam ter
reviravoltas em cima da
hora. Há candidaturas, que
não estavam previstas,
registradas no dia da
votação e renúncias. Jair
Bolsonaro já tentou duas
vezes comandar a Câmara.
Em 2011, recebeu nove
votos, e em 2017, quatro, de
513 possíveis.

4 | O TEMPOBELO HORIZONTE|SEGUNDA-FEIRA, 7 DE DEZEMBRO DE 2020 POLÍTICA


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