Crusoé - Edição 137 (2020-12-11)

(Antfer) #1
Rosinei Coutinho/SCO/STF

No Congresso, o vale-tudo para eleger os presidentes da Câmara e Senado se intensificou durante a semana

O balcão de negócios no Congresso

Liberação bilionária de emendas, ofertas de m inistérios, promessas de
implosão da Lava jato e at é de um novo f inanciamento sindical: o que está
na mesa de negociações pela sucessão na Câmara e no Senado

11.12.

HELENA MADER

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SALVAR

A cada dois anos, nas eleições munici pais e presidenciais, políticos saem às ruas
em busca dos votos dos brasileiros par a conquistar mandatos no Executivo e no
Legislativo. As campanhas fa lam em r edução de despesas, compromisso com o
combate à corr upção e fim dos privilég ios - ainda que a maior parte das
promessas sej a depois descumpri da. Outra disputa bienal mobiliza o meio
polít ico, mas com dinâmica inversa. No d ia 1 ºde fevereiro, deputados federais e
senadores vão escolh er os próximos presidentes da Câmara e do Senado. Ao
contrári o das eleições gerais, em que os candidatos apresentam abertamente as
suas platafor mas, a cor r ida pelo comando do Congresso é silenciosa. Envolve
negociações co rporativistas, promessas de cargos comissionados e ministérios, a
garantia de manutenção de benesses, além de alguns ar ranjos políticos nada
republicanos. Por isso mesmo, todas as al ianças são t ratadas nos bastidores,
bem longe dos holofotes. E a maioria das promessas é cumprida.


A história se repete este ano. Nos últ imos d ias, a eleição para as presidências da
Câmara e do Senado se transformou num grande balcão de negócios. Na mesa,
promessas de li beração bil ionária de emendas, ofertas de vagas em m inistérios
na refor ma programada para o início de 2021, j uras de dinamita r o que resta da
Lava Jato, assunto do interesse dos encalacrados com a Justiça, e até garantias de
criação de um novo imposto sindical, o que adoça o paladar de setores do PT e
da esquerda.


No domingo, 6, após o Supremo Tribunal Federal barrar a tentativa de golpe
branco para reeleger ilegalmente Rodrigo Maia e Davi Alcolumbre, a cor rida pelo
comando do Parlamento foi retomada do ponto de partida. Graças ao apoio da
máquin a governista, o nome de maior proj eção até agora é o do candidato do
gover no, o líder do Centrão, Arthur Lira, do Progressistas. Como a disputa pelo
comando da Câmara é um grande conchavo corporativista para garantir a
manutenção do status quo das excelências, não é de surpreender a escolh a de
um deputado enrolado como boa parte dos colegas. Lira tem uma coleção de
processos j udiciais, alguns encerrados, outros em andamento. As denúncias -
entre as pretéritas e as atuais - vão de violência doméstica a rachadinha,
passando pela contratação de fu ncionários fantasmas e pela cobrança de
propina investigada na Lava Jato. Há duas semanas, o Supremo formou maiori a
para manter o deputado como réu por corrupção passiva, no processo em que é
investigado por receber 106 mil reais em propina. A folha cor rida de Lira é tão
constrangedora que até mesmo alguns bolsonaristas sentem-se envergonhados
de declarar voto publicamente no escolhido do Planalto. E o que faz então do
líder do Centrão um candidato competit ivo para a sucessão de Rodrigo Maia? Do
ponto de vista dos colegas, há a convicção de que seus privilégios permanecerão
intocáveis pelos próximos dois anos e que os acordos polít icos serão regiamente
cumpri dos, ain da que isso cause desgastes perante a sociedade. "Sabe aquela
históri a do deputado que disse se li xar para a opinião pública? O Lira é um cara
que vai honrar os acertos porque é calej ado com as críticas e com as porradas
nas redes sociais", disse um parlamentar que faz oposição a Bolsonaro.

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