Zanone FraissaUFolhapress
O grupo J&F, que controla a JBS, destituiu a equipe responsável pela reveladora auditoria interna
Os relatórios confidenciais da J &F
Documentos do acordo de leniência da holding revelam que a JBS omit iu
da justiça informações importantes em sua delação, o que a coloca
novamente em xeque. Há ainda novos detalhes de repasses feitos a
ministros do atual governo e ao Instituto Lula
11.12.
LUIZ VASSALLO
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VELOCIDADO ÁUDIO DE 1.25x
SA LVAR
Crusoé teve acesso com exclusiv idade a relatórios sigilosos produzidos por uma
auditoria interna da J&F, controladora da JBS. Até agora inédito, o calhamaço de
525 páginas é o resultado de investigações contratadas pela própria holding, em
2019, no cumprimento de uma condição imposta pelo M inistério Público Federal
para a celebração do acordo de leniência da empresa, no âmbito da Operação
Greenfield. Para se ter uma dimensão da importância do material, a J&F,
aparentemente incomodada com o desenlace da auditoria que ela mesma
contratou, destituiu em maio deste ano o grupo responsável por acompanhar a
produção dos relatórios. Isso à revelia do M PF, que acionou a Justiça Federal em
Brasília, alegando desobediência aos termos da leniência. No lugar dos
demitidos, a J&F escalou nomes de sua estrita confiança - um deles já era
advogado da holding.
A época, ' a decisão da J&F de dissolver o conselho responsável pela auditoria
ainda estava revestida de mistério. Agora, tudo começa ficar mais claro. A
documentação obtida por Crusoé, que integra o acordo de leniência da empresa
com o MPF, revela que a companhia omitiu informações importantes à Justiça em
sua delação à Procuradoria-Geral da República, como a relação nada republi cana
com a desembargadora Maria do Carmo Cardoso, do TRF-1, e a existência de
uma rede b ilionária de contas de propina no exterior, o que pode colocar em
xeque o acordo de colaboração premiada. Há ainda novos detalhes de repasses
feitos a min istros do atual governo e ao Instituto Lula. Dos papéis, estão ausentes
explicações sobre os pagamentos do grupo ao ex-advogado da família Bolsonaro,
Frederick Wassef - os repasses foram revelados por Crusoé, em agosto.
A desembargadora e o pedido de emprego para uma
parente
Segundo a auditoria interna da J&F, às 14h do dia 28 de junho de 2016, a
desembargadora Maria do Carmo Cardoso encaminhou de seu e-mail funcional
do Tribunal Regional Federal da 1 ªRegião um pedido pessoal ao chefe do jurídico
da J&F, Francisco de Assis e Silva. "Caro Dr. Francisco( ... ) Creio que Renata
(Gerusa Prado de Araújo, filha da magistrada) já tenha lhe falado sobre Nayara,
irmã de Najla, mãe da m inha netinha. A jovem recém-formada em veterinária
que está se candidatando a uma vaga no complexo industrial da JBS. Conto mais
uma vez com seu apoio", encerrou a desembargadora, afetando intimidade com
o então diretor jurídico da J&F e dando a entender que ele já havia lhe feito
favores em outras ocasiões. De acordo com os documentos internos, Francisco
de Assis repassou a mensagem da magistrada ao então presidente da Divisão de
Carnes da JBS, a quem caberia acionar a direção de Recursos Humanos. "Me
ajude n isso que é importante", escreveu. Ainda no corpo do mesmo e-mail, o
diretor jurídico fez outro pedido, dessa vez em tom de alerta: "Manda apenas o
CV (currículo). Cuidado com parte do e-mail", afirmou, deixando claro que não
gostaria que a mensagem enviada pela magistrada chegasse ao conhecimento
do diretor da área de Recursos Humanos.