Viaje Mais - Edição 172 (2015-09)

(Antfer) #1

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NA BAGAGEM


As histórias vividas pela redação


VIAJEMAIS

três pousadas, abertas por
france ses. Encontrei aquele
mesmo morador na rua e
perguntei sobre o tal terreno
de R$ 5 mil que ele indicou
da outra vez. “Amigo, aquele
terreni nho agora vale R$ 50
mil”. Meu Deus, pensei, va -
lorizou 1.000% em dois anos.
Investimento melhor do que

esse, impossível.
Tempos depois, viajei de
férias para o litoral do Rio
Grande do Norte e cheguei à
Praia da Ponta do Mel, per ti -
nho da divisa com o Ceará, a
quatro horas de carro de Na -
tal. Lá encontrei o mes mo
cenário: uma praia linda,
dunas, nenhum turismo...
Não pensei duas vezes e arre -
ma tei um terreno de um pes -
cador por R$ 4 mil. O proble -

Terreno na praia


PORTALES AZZI

ma é que o terreno não tinha
escritura pública, como aliás
nenhum outro na vila de
Ponta do Mel. Tampouco
contava com um endereço
formal, de modo que fosse
possí vel loca lizá-lo em meio
ao vasto areal, ainda não es -
quadri nhado por ruas. No
cont rato que assinei no cartó -

rio da cidade, o endereço da
pro prie dade constava assim:
“Locali zado à beira da estrada
para Porto do Mangue (mu -
ni cípio vizi nho), a 200 metros
à esquerda do campo de fu -
tebol e próximo ao farol da
mari nha”. A melhor refe rên -
cia era o casebre de pau-a-
-pique, construído no local
pelo antigo dono, que funcio -
na va como rancho de pesca.
Meus amigos me escu -

SHUTTERSTOCK

lham baram: “Você é louco
e jogou dinheiro fora. O
dono já deve tê-lo vendido
para uma dúzia de malucos
iguais a você”.
Isso já tem seis anos.
Nunca mais voltei a Ponta do
Mel nem tenho notícias de
lá. É provável que a maresia
tenha consumido a cerca de
arame farpado e o vento der -
rubado o casebre de barro.
Isso se alguém não tomou
posse ou cons truiu uma casa
no lugar. Mas não importa.
Quem sabe não estão todos
errados, eu real mente fiz um
bom negó cio e o terreno está
lá para um dia abrigar uma
casa com vista para o mar?
Talvez a prefei tura já tenha
aberto uma rua em frente e
co locado postes de luz. E o
ter reno ganhou, finalmente,
um endereço digno, com
nome e número. Melhor
ainda: quem sabe Ponta do
Mel, um dia, se torne famosa
e suas dunas comecem a atrair
tu ristas do mundo inteiro, tal
como aconteceu com Icaraizi -
nho de Amontada? Vai sa -
ber... Sonhar não custa nada.
Enquanto isso, a história ao
menos rende um bocado de
assunto na mesa do bar e na
sala de jantar, pois sempre
alguém vem me perguntar:
“E aquele seu terreninho na
praia, hein?”.

S


empre que viajo para
uma praia no Nor -
deste, costumo per -
gun tar o preço de terrenos à
beira-mar. É uma curio sidade
minha sobre a espe culação
imobiliária no litoral brasilei -
ro. Certa vez, há dez anos,
cheguei em Icaraizinho de
Amontada, uma praia linda
na costa oeste do Ceará, com
dunas e lagoas nos arredores.
Àquela altura, pouca gente
conhecia a bu cólica faixa de
areia, escon dida ao final de
uma estrada de terra de 50
km, a três ho ras de carro de
Fortaleza. O lugar era apenas
um pacato vilarejo de pesca -
do res, com jangadas ancora -
das na areia e uma imensa
árvore plan tada bem no meio
da rua principal. Per guntei
sobre terrenos na vila e um
mo rador in formou que havia
alguns à venda por módicos
R$ 5 mil. Fiquei tentado a
com prar, mas, como estava
só de passa gem e não tinha
certeza se botaria os pés lá de
novo, fui embora.
Dois anos depois, acabei
voltando a Icaraizinho de
Amon tada. Os turistas esta -
vam começan do a chegar, a
maioria windsurfistas atraí -
dos pelos bons ventos que
sopram na quela baía de águas
tran qui las. A praia ganhara
dois clubes de windsurfe e
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