Revista Literária Prosa & Versos

(Anita Santana) #1

Joseane Santana


MARIAS RETIRA – ANTES


Teatro


De violência velada, aqui, ali, na família
e na sociedade, o espetáculo encenado
por Ana Caroline com um texto visceral
assinado por Joseane Santana, traz um
grito preso na garganta de várias mulhe-
res que por inúmeros problemas se viram
obrigadas a silenciarem-se.


Devo começar esclarecendo que não sou
Maria mãe de Jesus e nem somente Ma-
ria a Madalena, não vou falar somente de
vagina, e sim, minhas estórias são todas
de cunho feminista, represento as tantas
Marias advindas de tantas as terras es-
capes; sou as feridas, as que ferem e as
que matam. Sou das ditas puta, santa,
feroz, fudida, resto de parto, princípio de
família, comedora faminta de ratos. Sou a
trouxa, a que se declara, sou a fudida que
se entrega, a imbecil que se apaixona, a
malvada que chifra, a tal da “arrombada”
que mata. Prazer, sou Maria, represento
você, ela, aquela ali também... sou mais
uma... de tantas outras que muito disse-
ram e de nada adiantou.


(Vinheta do Plantão)


Boa noite! Vamos as notícias de hoje:
mulher A é assassinada pelo namorado
ao chegar em seu trabalho, a motiva-
ção foi a não aceitação por parte dele do
término de relacionamento. Mulher B é
esfaqueada pelo ex namorado, a polícia
desconfia de não aceitação do término
do relacionamento. Mulher C é degolada,
mulher D é afogada, mulher E é morta
a tiros, mulher F é jogada de 11º andar,


mulher G é mantida em cárcere privado
pelo próprio pai, mulher H é estuprada
pelo padrasto, mulher I é esquartejada,
mulher J é queimada, mulher K é encon-
trada enterrada no quintal do ex, mulher
M foi espancada, mulher N foi alvejada

pelo ex que é policial, mulher O, P, Q, R,
S, T, U ... mulher V...mulher V foi vio-
lentamente violentada pelo violento vilão
que vivia em sua vizinhança. Mulher W,
X Y e Z. Sinto telespectadores, mas fal-
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