tam letras para representar as tantas ou-
tras mulheres assassinadas nos últimos
dias que se passaram, sinto senhores,
mas lançaremos uma campanha. Nos
respeitem somos mulheres, e enquanto
as tuas mãos se levantam em torno das
poucas brancas ao seu redor, as muitas
negras continuam sendo tratadas como
lombrigas solitárias enjauladas e jogada
à solidão. Pulveriza, levantem as mãos,
percebam ao redor quantos levantam as
mãos! Percebam quantas mãos se levan-
tam para ajudar as que sofrem, as que
foram fuziladas e são diariamente fuzi-
ladas por piadinhas machistas e misó-
ginas. Não conto mãos, já conto bocas,
já conto nojentas bocas que perguntam
na delegacia: (IMITANDO POLICIAL) que
roupa vestia? Como estava maquiada?
Não disse nada que o provocou? Com
quem ela saía? Quais eram seus tipos de
amizade? Tem família? Que tipo de mú-
sica escuta? O traiu? Puta! Vadia! Va-
gabunda! Piranha! Mulherzinha! 13 para
uma, 5 para 1, quantos são eles, quantas
somos nós? Quantos? Quantas? Quan-
tas mais serão? A culpa provavelmente
é nossa, como podes uma mulher querer
sentir prazer, como os homens sentem,
vou lhes dizer uma coisa, eu adoro fuder,
e não me impressiona que os homens fi-
quem tão loucos por nós, porque somos
muito gostosas! E meter na gente é muito
bom!... Onde eu estava? Talvez eu falas-
se das tantas meninas, retirantes, vindas
dos sertões brasileiros, tem uma em es-
pecial que eu gostaria de representar.
Maria, oh Maria, chama Luzia que eu vou
parir! Última cena que lembro de mai-
nha... Ela deitada na cama, a parteira lhe
apertando o bucho, meus irmão tudo em
volta, chorando, e ela gritando, gritando,
e tinha muito sangue, sangue demais. De
repente o menininho sai, e minha mãe já
não responde ao chamado da gente, ela
morreu. Meu pai? Rum, meu pai nunca
tá em casa, ele deve de tá no bar de Zé,
ele vivi lá. Passado uns dia da morte de
mainha, umas tia viero me visitar, me de-
ram a bênção e pediram pra eu me cui-
dar, disseram: teu pai é home, tá só, e tu
já tá de peito a apontar. Eu fiz, misericór-
dia, que bando de muier maluca, o home
é meu pai, oxe! Conversa mais besta. Pas-
sado mais alguns dias, eu tava cortando
um restin de carne pra fazer a janta dos
minino, meu pai chegou por detrás deu, e
começou a levantar meu vestido, eu não
queria acreditar! Ele estava levantando,
levantando, eu não aguentei... virei com
tudo e mostrei a pexeira a ele, eu disse:
se tu tocar em mim eu lhe mato desgra-
çado, lhe furo todin! Ele se afastou, le-
vantou meu irmão que estava sentado no
chão pelo braço, e deu-lhe um tapa no pé
da orelha que o sangue escorreu na hora!
Oiou no fundo dos meus olhos e disse:
Toda vez que tu me arrenegar teu corpo,
eu vou matar um condenado desses, não
vai ficar nenhum, tu vai ficar só, só! Eu
engoli o choro, e de madrugada eu apa-
nhei tudo que tinha, os resto de comida,
os pano de bunda, peguei meus quatro
irmão, inclusive o mais miúdo e me em-
brenhei pelos mato adentro. (Suspiro) foi
a maior burrice que eu pudia fazer, pas-
sada umas hora a comida acabou, a água
acabou e andamos na secura por um bo-
cadin de tempo, tempo suficiente para
o mais menino dos meu irmão ir para o
lado da minha mainha, enterramos ele na
lama do açude que encontramos depois
de caminha um bocado, o resto dos mi-
nino ficaram numa felicidade, pescaram
tainha, e beberam daquela agua lamenta,
rum, ficamos ali um tempo que nem sei
calcular, e num entardecer apareceram
uns três home que disseram que iam nos
ajudar, ficaram por ali arrudiano, oxe dis-