Viaje Mais - Edição 197 (2017-10)

(Antfer) #1

98 VIAJEMAIS


na bagagem


As histórias vividas pela redação


be o quê? belize


Por natália manczyk

ShutterStock

endereços de lá.
Três atendentes deixa-
ram as mesas e foram para
uma sala nos fundos. En-
quanto isso, entrou o se-
nhor de bengala com qua-
tro cartas na mão, a moça
com um bonito embrulho,

o gringo querendo enviar
o passaporte e até policiais
vindos do carro-forte. Uma
fila havia se formado para
retirar senhas, não havia
mais cadeiras para tanta
gente lá dentro, e eu sen-
tia os olhares reprovado-
res por ser a responsável
pela multidão na agência
dos Correios.


  • Oi, demoramos por-


podemos enviar. Vou veri-
ficar na lista se tem CEP lá
em Be... Be o que mesmo?
Achei melhor eu mes-
ma olhar a tal da relação.
A situação me levou a uma
descoberta: existe uma
lista nos Correios com os

países em que os endere-
ços não têm CEP. Passei
por Bahamas, Barbados...
e nada de Belize. Não era
possível. O país está perto
demais para não fazer nem
parte da lista dos Correios.


  • Moça, então vamos
    ter que pesquisar no com-
    putador alguns estabe-
    lecimentos do país para
    confirmar se tem CEP nos


S


exta-feira, horário
do almoço. A agência
dos Correios estava
cheia e eu carregava na
mão uma pequena caixa,
com um molho de chaves
para ser devolvido ao bed
& breakfast onde eu havia
me hospedado em Belize.
Mal sabia eu que esquecer
na bolsa a chave do hotel
acabaria em uma tarefa tão
complicada.


  • Oi, preciso enviar esta
    caixa para Belize.

  • Be o quê?

  • Belize.

  • É uma ilha? Moça,
    precisamos do nome
    do país.

  • Mas é um país – res-
    pondi.

  • Não seria Berlim? –
    Tentou ela.

  • Não. É Belize.

  • Você não está confun-
    dindo com Grã-Bretanha?

  • Não. É Belize – eu
    disse mais uma vez.

  • Será que é Bélgica o que
    você está querendo dizer?

  • Não. É Belize – E so-
    letrei, com o bom humor
    um pouco mais abalado.
    Enquanto ela buscava
    algo no computador, escre-
    vi na embalagem o nome e
    o endereço do hotel, mas
    não havia CEP.

  • Moça, sem CEP não


que a gente estava pesqui-
sando hotéis nesse país... e,
nossa, como é bonito esse
lugar. Ficamos vendo vá-
rias fotos. É uma ilha, né?


  • É lindo mesmo. Lá
    tem várias ilhas, mas Belize
    fica no continente, aqui na
    América Central – descrevi
    de novo, feliz e realizada
    por estar apresentando um
    novo destino.

  • Não tem CEP mesmo
    nos endereços de Belize –
    confirmou-me a atendente,
    dessa vez já mais simpáti-
    ca e conhecedora do país.
    Pode me passar seu nome
    para eu escrever no com-
    putador?

  • Natália Manczyk, e a
    vi digitando o “T” no lu-
    gar do “Y.” É complicado
    mesmo. É polonês – contei.

  • Você conheceu a Po-
    lônia também? E como é?
    Foi a vez então de des-
    crever Varsóvia, a praça
    maravilhosa de Cracóvia
    e de ver as três atendentes
    se juntarem para me ouvir.
    Os policiais do carro-forte
    ainda esperavam, o senhor
    de bengala e o gringo tam-
    bém. Os clientes que antes
    me condenavam com seus
    olhares agora se aproxima-
    vam discretamente para
    ouvir a conversa e conhe-
    cer mais de um outro país.

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