Viaje Mais - Edição 198 (2017-11)

(Antfer) #1

NA BAGAGEM


As histórias vividas pela redação


sentisse o peixe morder era
hora puxar a vara. Puxei e a
vara começou a tremer. Gi-
rei a carretilha, o peixe veio,
e eu, todo feliz, quis repetir.
Joguei o anzol, a vara tre-
meu e veio um segundo pei-
xe. Depois um terceiro, um
quarto, até que o pescador,

profundamente irritado, to-
mou a vara da minha mão,
catou os “meus” peixes e foi
embora furioso.
Numa outra reportagem
na Holanda, achei por bem
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Logo apareceu um colega,
jornalista de TV, e me con-
vidou para uma partida de
sinuca. Avisei que não sabia
jogar e ele, carioca, falou

histórias a serem investigadas.
Houve uma época em
que tentei pescar. Esta-
va numa reportagem no
Nordeste e achei que podia
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nada. Logo, não resisti, fui
conversar com um pesca-
dor. Ele lamentou que esta-

va há várias horas sem que
peixe algum desse o ar da
graça. Perguntei se me ensi-
naria a pescar. Concordou.
Explicou como funciona-
va a carretilha, mostrou
como tinha de arremessar
o anzol. Prestei atenção em
tudo e repeti os gestos.
Quando o anzol estava
na água perguntei o que eu
devia fazer. Disse que se eu

Q


uando os colegui-
nhas jornalistas das
outras editorias —
política, polícia, esporte... —
saem para descansar podem
esquecer completamente o
serviço. Mas nós, do turismo,
não podemos ir a um restau-
rante em Lisboa, por exem-
plo, e comer em paz. Nada
disso. Temos de examinar
o cardápio todo, perguntar
quais pratos saem mais, a
história do prédio, como é
DJUDÀDFRUUHWDGRFKHIIUDQ-
FrVHGHVFREULUDÀQDOFRPR
é que se pode misturar baca-
lhau com trufas.
Hora de degustar a
iguaria com tranquilidade?
Nada, tem de tirar a foto
do prato e comer rápido
com o bloco de notas ao
lado. É preciso correr para
um esquenta na Praça Luís
de Camões com os baladei-
ros antes de subir ao Bairro
Alto para conferir as famo-
sas casas noturnas da noite
lisboeta. Uma trabalheira.
Mas chega uma hora,
acredite, que nós também te-
mos que parar para descansar
um pouco. E isso é um novo
problema. Em restaurantes,
já disse, a gente trabalha. Nos
museus, idem. Passeios, nem
pensar, as praças estão cheias
de monumentos repletos de

que adorava dar umas en-
caçapadas e que estava dis-
posto a me ensinar. Eu não
devia ter feito isso, mas en-
ÀPIRPRVMRJDU
Eu, com cara de paler-
ma, perguntei como era me-
lhor segurar o taco e como
devia bater na bola. Ele ex-
plicou direitinho. Obedeci,
bati na bola e, incrível, ela
entrou exatamente onde ele
havia apontado.
Agora é na verde, disse.
A batida foi fraquinha mas a
bola... caiu. E agora? A bola
laranja, respondeu sem em-
polgação. E lá foi ela pra caça-
pa, seguida da azul, da rosa e
da preta. Não errei nenhuma
e, a estas alturas, o coleguinha
estava de péssimo humor:
“Você nunca jogou mes-
mo antes?” — e não falou
mais comigo pelo resto da
viagem. Totalmente sem gra-
ça — juro que sequer sei se
há diferença entre snooker,
sinuca e bilhar — tentei jus-
WLÀFDUTXHWLQKDXPDHQRUPH
sorte de principiante, mas ele
QHPRXYLXHÀTXHLVHPDGLV-
tração que eu esperava por
algumas horas.
Às vezes eu até acho que
a gente esquece o que é re-
laxar e descansar. Isso que
dá trabalhar onde os outros
se divertem.

Trabalho e diversão


POR ROBERTO ARAÚJO

SHUTTERSTOCK
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