marighella

(Ornilo Alves da Costa Jr) #1
EDSON TEIXEIRA DA SILVA JUNIOR 113

Marighella a respeito do assunto. Ele prontamente responde utili-
zando uma frase que marcaria sua trajetória: “não tive tempo de ter
medo”. Marighella apontou que se ele tivesse medo não teria passado
pela prisão, não continuaria na luta política. Medo era para se ter
da repressão, da polícia e não dos companheiros de Partido, mesmo
que esses optassem por caminhos opostos, sendo maioria ou não.^166
Em reunião realizada em meados de 1966, onde Marighella ofi-
cializou seu desligamento da Comissão Executiva do PC, Geraldo fez
sua intervenção tentando demonstrar que aquele não era o caminho
mais viável, “o caminho tinha que ser de acumulação de forças, um
caminho que as massas participassem”.^167 Mas os delegados presentes
já haviam escolhido o seu rumo, a liderança de Marighella se fazia
notar nitidamente. Os dois amigos de épocas passadas se abraçaram e
Marighella chorou. Era uma difícil despedida. Geraldo se recorda das
últimas palavras que teve com ele, Marighella foi taxativo ao afirmar
que se fosse para continuar a seguir a política defendida pelo Partido
Comunista, era preferível “vender gravatas pelo país afora”.^168
Se a amizade não foi tocada, se os princípios continuavam os
mesmos, por que Carlos Marighella vai consubstanciando seu des-
ligamento do Partido Comunista? Afinal, foi boa parte de uma vida
dedicada ao Partido. Após a primeira tentativa de assassinato que
sofrera no Rio de Janeiro, em 9 de maio de 1964, Carlos Marighella
lançou “Por que resisti à prisão”, documento em que narra todo
o episódio do tiro no cinema, sua prisão, as versões falaciosas da
polícia, as condições do cárcere, o envolvimento dos policiais que
o prenderam com o crime organizado, a aflição da plateia com o
fato – a sessão no cinema exibia o filme “Rififi no Safari”, era uma
matinê e muitas crianças se encontravam no local. Os últimos dois
capítulos são embasados numa crítica aberta a posição adotada pelo


(^166) Idem.
(^167) Cf. depoimento de Geraldo Rodrigues dos Santos.
(^168) Idem.

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