marighella

(Ornilo Alves da Costa Jr) #1
118 CARLOS, A FACE OCULTA DE MARIGHELLA

Esses três casos são ilustrativos de uma sequência abordada por
Marighella, incluindo as péssimas condições no tocante à alimentação
e ao alojamento dos presos e aos inúmeros casos de suicídios e tortura
seguida de morte. O fechamento do regime se faria maior através
da perseguição a profissionais das mais variadas funções. Marighella
relatou:


o professor da Faculdade de Filosofia da Universidade de São Paulo, o
sociólogo Florestan Fernandes, porque escreveu uma carta ao coronel en-
carregado de um IPM, defendendo a liberdade de cátedra e dando motivos
por que decidira depor, foi detido no xadrez de um quartel. Carlos Heitor
Cony, escritor de mérito inconfundível, foi processado pelo ministro da
Guerra, que tentava cercear-lhe o direito de escrever. Maria Yeda Linha-
res – um dos valores da nova geração – foi demitida da direção da Rádio
Ministério da Educação e enxovalhada publicamente porque imprimira
à emissora uma orientação mais consentânea aos interesses culturais do
nosso povo. Jornais foram ilegal e arbitrariamente fechados em todo o
país ou simplesmente não puderam mais circular. A União Nacional dos
Estudantes (UNE) teve sua sede incendiada pelos vândalos golpistas, e
posteriormente foi declarada extinta por iniciativa do Ministério da Edu-
cação. Contra os sindicatos mais importantes foram instaurados IPMs,
com prazos excedidos e funcionando ilegalmente, e onde são chamados
a depor líderes sindicais que não saíram do país. Punidos com cassações
de direitos políticos e outras sanções. Perseguidos no país ou vivendo no
exílio, existem muitos brasileiros.^179
Entre esses últimos destacam-se Leonel Brizola, João Goulart,
Juscelino Kubitschek, Luiz Carlos Prestes, Ana Montenegro, Paulo
Freire, Francisco Julião, Anísio Teixeira e o próprio Carlos Marighella.
Marighella reuniu essas denúncias no livro editado em 1965, Por que
resisti à prisão.


(^179) Idem, pp. 87-95.

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