marighella

(Ornilo Alves da Costa Jr) #1
EDSON TEIXEIRA DA SILVA JUNIOR 123

uma relação simétrica com o movimento estudantil, nem com o
movimento operário. O interesse por política se dá nos bairros, no
movimento popular, da turma de bairro com que convivia.^190 O enga-
jamento político na ALN foi a posteriori, após uma avaliação dos fatos
que se debatiam sobre a política nacional. À proporção que o regime
militar fechava os canais formais da militância política, a aproximação
com a Ação Libertadora Nacional se estreiava. A identificação com a
ALN não foi imposta. A ALN, segundo Cyrillo, não se apresentava
fundamentalmente como socialista. Tinha por definição um caráter
de resistência à ditadura militar. Isso pelo menos era a conclusão a que
ele e seus pares chegaram e por isso se engajaram. Uma organização,
como o nome dizia, de libertação nacional, de oposição à ditadura
instalada. O livro Por que resisti à prisão, escrito por Marighella, foi
relevante para uma definição.^191 Análise semelhante é compartilhada
pelo ex-militante da ALN, Carlos Fayal. Para ele, um dos pontos de
maior destaque da ALN e de Marighella foi reunir um número de
pessoas independente politicamente. Fayal era estudante do Colégio
Mallet Soares, em Copacabana, bairro da zona Sul carioca. O elo
com a política aflora na passagem pelo Mallet Soares. Ali chegou a
dirigir um jornal de curta duração. Articulara-se com demais grupos
de diversas áreas que propunham uma discussão acerca da resistência
ao golpe militar. Os limites impostos pela ditadura refletiam-se nas
escolas, impedindo o funcionamento dos grêmios estudantis. Grupos
de estudos eram repelidos. Se optassem por atuar publicamente, cor-
riam os riscos de serem assassinados. Do ensino fundamental e médio,
passando pelo pré-vestibular, a militância política foi se acentuando.^192
O movimento estudantil, em especial no ano de 1968, se trans-
formou num dos principais setores de contestação ao regime militar.
E por isso será nomeado um dos inimigos públicos mais perseguidos.


(^190) Depoimento de Manuel Cyrillo colhido pelo autor em 18.12.1998.
(^191) Idem.
(^192) Depoimento de Carlos Fayal colhido pelo autor em 2.12.1998.

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