marighella

(Ornilo Alves da Costa Jr) #1
134 CARLOS, A FACE OCULTA DE MARIGHELLA

rão inteiro até o automóvel. Em situações posteriores ele narra que
Marighella tinha um certo apreço por sua pessoa. Gostava muito
que guiasse o carro nos seus deslocamentos por São Paulo, sempre
procurando as ruas secundárias, fugindo assim de um possível cerco
policial. Seria arriscado, por exemplo, se expor a trafegar em plena
Avenida Paulista. Lembremos que, a essa altura, a caracterização de
terrorista não o imobiliza. Por sinal rebatia, posteriormente, essa
denominação no “Minimanual do Guerrilheiro Urbano”: “a acu-
sação de terrorista já não tem o sentido pejorativo que se lhe dava
antes. Esse termo ornou-se de cores e de um sentido novo. Já não
causa medo nem vergonha, representando, ao contrário, um pólo
de atração”.^217 Num desses deslocamentos por São Paulo, Roberto
Barros Pereira conta que passavam pela Rua Heitor Penteado, no
exato momento em que cruzam com um carro do exército repleto de
homens armados. Marighella estava no fusca, na parte traseira com
mais dois acompanhantes, outro se encontrava ao lado de Roberto
que dirigia. A reação de Marighella foi de uma coragem à beira da
temeridade. É evidente que chamaria a atenção de qualquer policial
distraído um carro contendo cinco elementos. Roberto, na tensão
daquele momento, ouviu Marighella sussurrar: “tão perto e tão lon-
ge. Olha, se eles soubessem, hem?”^218 Roberto procura explicar esse
comportamento de Marighella caracterizando-o como a pessoa mais
destemida que conheceu.^219 Em situação semelhante, com Carlos
Fayal, pelos subúrbios do Rio de Janeiro, ambos se deparam com
uma batida policial. Marighella com a calma de sempre procurou
contornar a situação, indicando o trajeto a ser seguido. Costumava
tranquilizar a situação indicando a seguinte frase: “O inimigo quando
pensa que nós estamos longe, nós estamos perto”.^220


(^217) MARIGHELLA, Carlos. Minimanual do Guerrilheiro Urbano. Op. cit., p. 54.
(^218) Cf. depoimento de Roberto Barros Pereira.
(^219) Idem.
(^220) Cf. depoimento de Carlos Fayal.

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