marighella

(Ornilo Alves da Costa Jr) #1
158 CARLOS, A FACE OCULTA DE MARIGHELLA

filhos foram todos bem educados, certinhos, e o meu pai quase que
não influenciou na nossa educação porque a vida dele sempre foi den-
tro daquela oficina. Ele trabalhava, chegava em casa conversava com
a gente, mas a educação sempre foi quase toda dada pela minha mãe.


Edson – A senhora atribui a Carlos Marighella essa preocupação
com os pobres e excluídos como uma influência originada do contato
com a mãe?
Tereza – É, do contato com a mãe.


Edson – E como se dava a relação dele com a mãe?
Tereza – Ele era muito bom, minha mãe adorava ele e ele adorava
minha mãe. Ela sempre tinha umas coisas para contar dele, que ele era
muito levado, gostava muito de fugir, qualquer porta aberta, portão
aberto, ele já estava na rua. Então ela tinha que ir lá, procurava onde
ele estava, batia, naquele tempo os pais batiam muito nos filhos,
dava umas palmadas nele, pegava uma cordinha ou um barbante
e amarrava ele no pé da mesa para evitar que ele fosse para a rua.
Tinha uma vizinha da minha mãe que dizia: “Ah! Dona Maria Rita,
não amarre seu filho, isso é muito ruim porque mãe que prende,
que amarra o filho, o filho um dia vai ser preso”. Depois do dia que
a vizinha falou isso ela então ficou com medo e não amarrava mais.
Anos depois que ele foi preso, já na política, ela dizia: – eu amarrei
meu filho, não devia ter amarrado.


Edson – Então ele era um pouco arteiro, uma criança agitada?
Tereza – Ela contava que quando passava, às vezes, os soldados
marchando, o batalhão passando na rua, ele ia atrás, sumia, ia mar-
chando também. Ia em frente.


Edson – Qual o outro tipo de brincadeira de que ele mais gostava?
Tereza – Gostava muito de futebol, gostava muito de música.
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