marighella

(Ornilo Alves da Costa Jr) #1
162 CARLOS, A FACE OCULTA DE MARIGHELLA

Foi um choque grande, foi um baque muito grande. Ele mantinha
tudo em sigilo, em segredo.


Edson – A senhora já havia me dito que ele conversava muito
com seu pai, ele deveria ter alguma informação a respeito?
Tereza – Tenho a impressão de que meu pai devia saber, porque
eles conversavam muito. Conversavam sobre a Itália, os papos deles
eram a Itália, meu pai nasceu em Ferrara e como Marighella estudava
muito, ele sabia tudo, discutia com meu pai os lugares, parecia até
que ele conhecia, parecia até que os dois eram do mesmo lugar. Ele
perguntava onde estava aquilo, onde ficava aquilo, meu pai respondia.


Edson – Então a família não sabia de seu envolvimento com a
política?
Tereza – Não. A família ficou meio arrasada. Eu estava estudando
e não queria saber de política, queria estudar, queria ser professora,
quando o negócio estourou aí foi aquele baque muito grande.


Edson – Antes dele entrar para a política, ele já possuía uma
preocupação com a pobreza?
Tereza – Já. Isso tudo vem de criança quando ele pegava as pes-
soas de onde nós morávamos, uma rua sem saída, chamada Barão
do Desterro, lá em Salvador, era uma rua pequena. Ele pegava as
crianças que não frequentavam a escola e os adultos que não sabiam
ler e levava todo mundo lá para casa para ensinar. E matemática, o
forte dele era a matemática. Às vezes, a criança estava na escola, estava
ruim na matemática, a mãe ia lá pedir e ele dava aula de matemática.
Isso assim “manda lá”, sem cobrar nada. Ensinava tudo, a mãe ficava
mais contente, o filho mais ainda.


Edson – Como foi o contato com a família depois que ele entrou
para a militância?

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