marighella

(Ornilo Alves da Costa Jr) #1
164 CARLOS, A FACE OCULTA DE MARIGHELLA

Tereza – Foi em um dos aniversários de meu filho, não sei se era
5 anos. Ele veio com a Clara, meu filho estava fazendo 5 anos. Esse
negócio de data para mim é muito difícil. Meu filho estava fazendo
5 anos e minha filha estava fazendo 1 ano, então, nós inventamos
de fazer um bolo de aniversário e comemorar juntos (José Augusto e
Regina Lúcia) eles vieram e almoçaram aqui, chegaram em cima da
hora do bolo. Fizemos um bolo só com uma vela de 5 anos e outra de
1 ano. Mas o José Augusto não aceitou e queria o dele sozinho, a veia
revolucionária (risos), fez uma revolução na hora de cantar o parabéns,
puxou a toalha da mesa. Ah, mas ele riu tanto, ele achou tão gozado
aquilo, pegou um guardanapo que estava na mesa e fez um poema na
mesma hora, esse poema eu tinha até bem pouco tempo e entreguei
ao José Augusto e ele não sabe onde colocou, escrito no guardanapo,
eu sei que dizia assim: “No dia do aniversário / José Augusto Teixeira
/ chorava de fazer dó / encenando aquela peça / bububú no bobobó.
Estava passando uma peça no teatro, “Bububu no bobobó”, então ele
fez uns versos, uma paródia, só sei que terminava assim. Foi a última
vez que ele esteve aqui. Teve uma vez que ele veio aqui acompanhado
de José Frejat, não sei se ele era militante, não sei o que ele era, ele
veio aqui almoçar e ele estava ajudando a lançar a candidatura do
José Frejat a algum cargo político.
Eu anotei algumas coisas aqui, e gostaria de você ver se já falei
tudo. Marighella era nosso irmão mais velho, o Carrinho, carinhoso,
e orientador de todos, ele nos incentivou muito para que estudásse-
mos e trabalhássemos. Ele frisava muito que era muito importante
que estudássemos e trabalhássemos. Tanto que, quando eu cheguei
aqui em 1948, fui procurá-lo, ele era deputado. Fui pedir a ele que
me arrumasse alguma coisa, pois já havia me formado em professora
primária em 1945, lá na Bahia. Ele disse: “negativo, você vai procurar
com suas próprias mãos, não vou influenciar em nada, não vou te
dar carta nenhuma, você vai procurar, você vai fazer concurso, você
não estudou? Você vai fazer concurso”. Na hora fiquei desapontada,

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