marighella

(Ornilo Alves da Costa Jr) #1
EDSON TEIXEIRA DA SILVA JUNIOR 165

poxa! Mas um deputado... Eu não entendia como é que podia ser
uma coisa daquela, deputado. Depois eu entendi, depois a posi-
ção dele eu entendi bem, mas naquele momento eu fiquei muito
desapontada, ele não ajudou não. E fiz o que eu fiz, fui procurar
meus caminhos. Então, sempre nos incentivou a que estudasse e
trabalhasse. Eu era apaixonada por ele. Ele foi meu ídolo, para mim
ele era uma biblioteca ambulante, tudo que eu queria ia perguntar
a ele , e ele sabia, mas sabia tudo. Eu pegava no dicionário, criança
ainda, e escolhia uma palavra e pensava assim: essa aqui eu duvido
que ele saiba. “Ô Carrinho, vem cá, eu estou com uma dúvida e o
que significa essa palavra assim, assim?”. Ele respondia igual ao que
estava no dicionário, emprega-se assim, pode ser empregado assim.
Eu perguntava para ele: Você estuda o dicionário? Ele começava a rir.
“Que estuda o quê, toma juízo. Dicionário é para a gente consultar,
para na hora que está precisando vai lá, procura a palavra”. Todas as
palavras que eu pergunto ele sabe, então ele já procurou, já precisou
de ler essas palavras todas, então, ele já leu esse dicionário. Ele parecia
uma biblioteca ambulante, estava andando, fazendo o que estivesse
fazendo, comendo, as vezes tomando água e estava respondendo, ia
em frente. Nem pestanejava para responder nada. Sabia tudo. E na
minha inocência, ou talvez, na minha ignorância pensava que ele
decorava o dicionário.
Ele era alegre, andava sempre apressado com seus vários compro-
missos e afazeres. Mas não deixava, “de vez em quando”, de pegar no
bandolim. E cantando tirava uns acordes e dizia sempre um refrão:
justiça de Deus na mão da História. Ele compunha e cantava suas
canções de paródias. Aquela história do Juracy, ele não suportava o
Juracy, ele fazia aqueles poemas para o Juracy, botava a letra dele e a
música de outra canção e tocava lá no bandolim.
Olha, nós choramos muito quando ele veio para o Rio e ficamos
sem notícia dele muito tempo. Lembro quando ele voltou a Salva-
dor para batizar o Caetano, ele e a minha avó, mãe de meu pai, que

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