marighella

(Ornilo Alves da Costa Jr) #1
172 CARLOS, A FACE OCULTA DE MARIGHELLA

Ele era muito brincalhão. Ele pegava toalha, enrolava a toalha, torcia,
aí a gente chamava ele de papai-Buick, aquele carrão de marca antiga
que ele tinha: – Papai-Buick, aí todo mundo apanhava de toalha, de
brincadeira, é claro.


Edson – E a macarronada italiana, não era um hábito?
Tereza – Tinha. Ele fazia questão que todos sentassem na mesa
e todo mundo tinha que tomar vinho, botava vinho misturado com
água e todos bebiam na hora da refeição.


Edson – E o samba?
Tereza – Ele gostava de ver, de apreciar. Ele sambar, eu nunca vi.

Edson – O pai exerceu influência política sobre Marighella?
Tereza – Não. Ele conversava muito com o pai, sobre tudo. O
pai era muito trabalhador, mas ele desconfiava, certamente ele sabia
de alguma coisa.


Edson – Qual é a dor da ausência de Carlos Marighella?
Tereza – É tão difícil. A humanidade... cada vez... pior. Porque
tudo que está acontecendo agora ele queria dar um jeito, amenizar,
apaziguar tudo, mas não deixaram ele fazer o que ele queria, não
deram oportunidade a ele, ele sabia das coisas.


Edson – E desde cedo?
Tereza – Ele faz muita falta. Muita coisa que ele queria fazer está
até hoje sem resolver, esse negócio dessa reforma agrária, isso é coisa
que ele falava quase diariamente, o que resolveram até hoje? A história
desses camponeses era uma preocupação constante para ele. Esses
sem-terra que estão aí, era uma preocupação dele, naquela época. E
eu falava para ele: – por que é que você tem que se preocupar com
isso? Quantas vezes eu falei isso para ele.

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