marighella

(Ornilo Alves da Costa Jr) #1
176 CARLOS, A FACE OCULTA DE MARIGHELLA

com negra, então, ele tinha aquela gesticulação assim, a mão grande,
aquela gesticulação de italiano; e o físico muito do negro, os lábios
grossos, o cabelo bem crespo, como a gente diz assim, pixaim, tinha
um porte atlético mesmo, pé grande, um homem alto, que se movia
bastante ao falar. Uma pessoa de hábitos muito simples, pela própria
vida que ele teve se pode dizer que, enquanto ele foi clandestino, ele
quase só usou roupas que os outros davam. Porque era militante,
como os militantes clandestinos, em sua maioria, não tinham muitos
recursos, não tinham quase nada. Mesmo quando ele foi deputado o
que ele ganhava, como deputado, entregava ao partido, e o partido
dava a ele uma quantia x, para ele pagar pensão, quando ele morava
lá no Rio. Seus gastos eram mínimos, era uma pessoa muito simples.
Então, como naquela época havia um trabalho de solidariedade,
muitas famílias, que tinham mais recursos, davam roupa. Por exem-
plo: ele usou muito os ternos de um antigo militante comunista, da
família Campos da Paz.
Era uma pessoa de hábitos absolutamente simples, alto, porte
atlético, adorava fazer exercícios. Não vou dizer praticar esportes,
porque esportes seria uma coisa muito mais metódica, que ele não
pôde fazer. Desde garoto ele jogava futebol, batia bola na rua, mas
a Tereza já deve ter dito para você, adorava isso, batia bola na rua e
tomava muito sol, gostava muito de ficar andando na rua ao ar livre.
Infelizmente, depois a vida o deixou preso muitas vezes, não é?


Edson – Isso nos momentos de mais liberdade?
Clara – De mais liberdade. Mas, ele era um homem sadio.

Edson – Não apresentava nenhum problema de saúde?
Clara – Teve alguns problemas normais, de dente, problemas na
vista, adquirido na própria cadeia, pois, ficou preso por muitos anos.
Mas era um homem muito sadio, com uma força física muito grande,
ele inclusive procurou manter, mesmo nas épocas mais difíceis, ele

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