marighella

(Ornilo Alves da Costa Jr) #1
196 CARLOS, A FACE OCULTA DE MARIGHELLA

muita gente, tinha que abastecer aquilo tudo. Não sei se todos os
dias, mas ele carregava.


Edson – Como era o cotidiano do casal, como viviam a senhora
e Carlos Marighella?
Clara – Marighella possuía uma atividade que todo revolucio-
nário deve ter. Ele nunca me explorou, no sentido de se acomodar
nas tarefas, quando tinha tempo dividia as tarefas. Ele lavava roupa,
e naquele tempo era no muque; lavava, mas não sabia passar. Então,
para ilustrar a sua determinação, ele propôs que quando eu passasse
as roupas, ele lia em voz alta, lia os jornais, textos políticos, nós es-
tudávamos, passando roupa. Ele encerava a casa, eu nunca encerei
casa, ele encerava e passava aquele escovão. E essa característica era
em qualquer casa que ele ficasse, gostava de um ambiente organizado,
arrumado, tomava banho e pendurava a toalha. Ao acordar se eu não
estivesse por perto, esticava o lençol. Jamais você veria ele sujar um
copo e deixá-lo sem lavar. Ele lavava louça, adorava água, era muito
organizado. Seus livros eram todos organizados, limpos. Ele também
era limpo.
Quando na época da guerrilha, ele ensinava aos meninos a ter
essa organização. Ele falava que era para limpar a casa onde se encon-
travam, afinal, a casa era emprestada, e eles não iriam deixar aquela
bagunça. Era para pegar tudo, enrolar num papel e colocar no lixo.
Quando eu falei isso no programa do Jô Soares eles ficaram es-
pantados, admirados de conhecer esse lado do Marighella.


Edson – Eu queria avançar um pouco mais.
Clara – Então essa vida cultural é um capítulo da vida dele, isto
é, 1939, 1940, 1941, 1942. E quando eles foram para a Ilha Grande
já tinha outras características que era mais aberto, os presos que eram
casados podiam receber as famílias ali. Agildo Barata recebia a família
ali. Alguns tiveram direito a ter uma casinha separada para ficar com

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