marighella

(Ornilo Alves da Costa Jr) #1
204 CARLOS, A FACE OCULTA DE MARIGHELLA

Edson – E qual o nome desse casal?
Clara – Eu não me lembro. Acho que o nome dele era Antônio,
não sei o nome dela não, Laura, não me lembro. Bom, eram dois
jovens, ela era operária tecelã, ele era comunista, que parece que havia
sido operário tecelão e depois passou à luta clandestina.
Eu estou te contando assim que é para você ver que tipo de
personalidade que era o Marighella, se fosse outro poderia dizer:
imagina se eu tenho tempo para dizer onde tira móvel, bota móvel,
entendeu? Ele tinha esse lado humano, o que revela nele que ele não
era egoísta de jeito nenhum, “quer dizer vou cuidar de mim, deixa
isso pra lá”, essa coisa que você encontra muito, e hoje você encontra
muito isso, cada um pensa no seu, ele tinha essa coisa de ser solidário
com o outro, de ajudar o outro a enfrentar os seus problemas, porque
era para facilitar a própria luta também, não criar problemas para o
cara não ficar atrapalhado também, entende? Era o lado, assim, pa-
ciente, humano, carinhoso com as pessoas. Por isso eu sempre digo,
todas as mulheres, todos os homens que lidaram com Marighella são
apaixonados por ele.


Edson – Esse exemplo que a senhora deu da divisão de tarefas é
fantástico?
Clara – Você sabe, desculpe, o Edson...


Edson – Pode falar...
Clara – Eu fui num debate de feministas, quando voltei de
Cuba, eu contei esse exemplo e ficaram admiradíssimas. Até hoje
se discute, em todas as entidades hoje, que o trabalho doméstico
deveria até ser remunerado, porque o Estado deveria facilitar, im-
plantando lavanderias coletivas, o Estado arcaria com tudo, para
poder liberar a mulher para entrar no trabalho produtivo. Então,
até hoje se discute muito por que a mulher não ascende, isso se
discute muito, no movimento feminista, por que tem homens na

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