marighella

(Ornilo Alves da Costa Jr) #1
206 CARLOS, A FACE OCULTA DE MARIGHELLA

Edson – E o hábito de escrever poemas?
Clara – Tem uma coisa, o Marighella tinha o hábito de escrever.
Ele elaborava caminhando, ele ia daqui até 10, 20, 30 ruas caminhan-
do, quando ele voltava, ele já havia escrito aquilo aqui, na cabeça, ele
tinha muito essa coisa de andar e elaborar, né. Ele gostava muito de
escrever, tinha uma facilidade enorme para escrever. Agora poema,
o verso, eu acho que foi sempre uma coisa de impressão, ele olhava
uma coisa e punha no papel.
Você conhece o livro dele, “O Rondó da Liberdade”, tanto que
o Clóvis Moura analisa as poesias evocativas, poesias líricas, poesias
revolucionárias. Ele tinha muito isso, ele, às vezes, ficava calado, não
era uma pessoa que falava o tempo todo, às vezes, ficava olhando e
tudo, você nem imaginava o que estava passando na cabeça dele, e
daí a pouco saía um verso, ele tinha essa facilidade, ele gostava muito,
muito de fazer versos.


Carlinhos – Bahia, Clara, é o seguinte: ela firmou um valor dos
dotes intelectuais. A Bahia sempre deu valor a dotes intelectuais.
Então eles falam que o baiano fala bem, é bem articulado, um povo,
uma pessoa que fala bem, que tem dotes culturais, que tem cultura,
isso tudo se reconhece muito hoje, quer dizer, boa parte que a Bahia
conquista hoje de música é fruto disso, ao longo de muitos anos, tá
entendendo. Caetano Veloso é um cara de um interior, de uma cidade
absolutamente decadente e acabada e ele lia muito, trabalho que deu
muito valor a ele. Eu sempre fui muito estimulado a ler, inclusive
meu pai, que me presenteou muito com livros, eu li tudo que criança
tinha que ler naquela época. Meus filhos não tem a metade desse
saber, hoje em dia, já não se lê tanto assim.


Edson – Pelas leituras que até então eu tenho, me chamou atenção
as medidas de segurança que Marighella tomou quando ele estava na
clandestinidade, os disfarces que por hora ele utilizava, os nomes e os

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