marighella

(Ornilo Alves da Costa Jr) #1
216 CARLOS, A FACE OCULTA DE MARIGHELLA

admiração pelo trabalho dele, mas espera aí, o país não é só uma
Bossa Nova, o país teve e tem muita gente a homenagear, como Ma-
righella, Lamarca e outros mais. Fica uma reprodução da história e,
nesse exemplo, no nome das ruas, das escolas, como se fosse a história
oficial, é o reflexo da história da elite dominante. Isso a meu ver tem
que ser confrontado, esse grupo de pessoas não pode ficar esquecido.
Clara – Eu acho que isso depende muito do trabalho que se
faça e é isso que a gente vem fazendo há muitos anos, recuperando
a memória histórica dele e de outros para que o povo vá relembran-
do, porque você vê, o Zumbi virou herói popular 300 anos depois,
graças a todo um trabalho de consciência do movimento negro. É
muito importante você ter o nome de escolas, o nome de praças
em homenagem a essas pessoas, mas é importante que o povo saiba
quem essas pessoas foram. Não é tão simples, hoje em dia como
é que se coloca uma placa de rua no Brasil? As autoridades é que
colocam o nome, a população nem toma conhecimento. Eu espero
que no caso de Marighella as pessoas saibam, se tem uma sala de
uma escola, se tem uma praça, uma escola, uma estátua, que o povo
saiba melhor quem foi essa figura, qual foi a contribuição dele, a
luta pelo desenvolvimento do país, o crescimento do povo. Espero
que isso aconteça.


Edson – Voltando aqui eu queria que a senhora se estendesse um
pouco mais sobre aquilo que nós conversamos no lançamento do livro
de Emiliano José, do comportamento de Marighella sempre compre-
ensivo, sempre aberto ao diálogo. O que a senhora quis dizer naquela
situação sobre essa característica do comportamento de Marighella?
Clara – Você sabe que Marighella foi assassinado com 58 anos
de idade. Eu o conheci em 1946 e convivi com ele até quando ele foi
assassinado, com altos e baixos, dependia da própria vida clandestina.
Eu não posso saber de todos os momentos dos 58 anos da vida dele.
O traço marcante da personalidade dele – ele não era nem um santo,

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