marighella

(Ornilo Alves da Costa Jr) #1
EDSON TEIXEIRA DA SILVA JUNIOR 217

também ficava zangado, bravo, exasperado diante das coisas – mas
o traço marcante é que ele não era uma pessoa nem irascível, nem
intolerante e não era grosseiro com as pessoas de um modo geral.
Eu nunca vi, na minha convivência com ele, ele maltratar um ser
humano, ele podia não concordar, podia ficar danado da vida com
a besteira que a pessoa fazia ou dizia, mas ele era incapaz de fazer
uma grosseria pessoal. A divergência do Marighella com as pessoas
se travava no terreno político, ou vamos dizer cultural, fosse o que
fosse, mas ele não maltratava as pessoas, pelo fato de divergir, que é
uma coisa que não é muito comum, porque as pessoas ou pela paixão,
pela falta de educação, ou por que razões sejam, quando conversam,
quando discutem, quando têm divergência maltratam no ponto de
vista pessoal, se agridem, procuram machucar a pessoa. Isso é uma
coisa que Marighella não fazia.


Edson – Em que momento a senhora viu Marighella tenso,
nervoso?
Clara – Tenso e nervoso tinha que ser. Você acha que a vida da
gente era fácil?


Edson – Mas eu digo ele reprimindo alguém, por exemplo, com
rispidez.
Clara – Não era essa a característica dele, ele podia dar uma
bronca por não concordar com a maneira da pessoa proceder, mas
ele não machucava a pessoa, não ofendia, não usava palavra de baixo
calão, não tinha essa forma de proceder, era uma pessoa de muito
respeito aos sentimentos do outro como ser humano. Essa que é uma
característica muito importante da personalidade dele.


Edson – Um outro ponto é o comportamento emocional de
Marighella a partir do momento em que se insere definitivamente
na luta armada. Como ele ficou no convívio? Tenho noção de que

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