marighella

(Ornilo Alves da Costa Jr) #1
EDSON TEIXEIRA DA SILVA JUNIOR 261

decorria do fato de ser filho do Marighella. Sempre tive Marighella.
Marighella era neto de meu avô, era sobrinho de Caetano Mari-
ghella, era sobrinho de Humberto Marighella. A família Marighella
é de saída uma família comunista, nem todo mundo se integrou
ao Partido Comunista, mas, em princípio, essa solidariedade com
a causa comunista já existia na parte de qualquer descendente de
Augusto Marighella.


Edson – Ele nunca conversou com você sobre entrar no partido.
Mas ele teve alguma conversa sobre política com você?
Carlos – Olhe, eu falo que ele sentava comigo para discutir mar-
xismo, o que era a visão dele no mundo. Isso era uma coisa natural,
era na mesa. Eu li todos os livros de Engels que meu pai comprou
para mim, ou aquele Origem da família e da propriedade privada, li
economia, li a História da riqueza do homem, eu lia todos os livros
de Jorge Amado, que eram livros que faziam uma pregação socialista
muito intensa. Era uma literatura muito orientada, mas meu pai nun-
ca chegou para mim e disse: “Você vai entrar no Partido Comunista
amanhã”. Essas coisas foram acontecendo naturalmente e eu quando
voltei para a Bahia ingressei no Partido Comunista sem ninguém
me pedir, sem ninguém me dizer, que era fruto daquela visão que eu
tinha, que foi uma experiência de vida, mas que não foi só do meu
pai, já da família, no contato com meus tios e foi se consolidando.


Edson – Quando você retornou para a Bahia continuou a ter
contato com ele?
Carlos – Não, nunca mais. Eu falava com meu pai por cartas,
escrevo diversas vezes. Eu quero dizer até que meu pai, pelo tipo de
vida que levava, queria proteger a família, se afastar da família. Numa
única vez que meu pai viria a Bahia marcamos um encontro e ele
não apareceu nesse encontro, mas nos falávamos, trocamos muitas
cartas nesse período.

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