marighella

(Ornilo Alves da Costa Jr) #1
262 CARLOS, A FACE OCULTA DE MARIGHELLA

Edson – Qual o conteúdo dessas cartas?
Carlos – Por incrível que pareça, as principais coisas que eu me
lembro dessas cartas eram conselhos para que eu estudasse, para que
prosseguisse coisas muito paternais.


Edson – Depois de 1964 você nunca mais o viu?
Carlos – Nunca mais. A última vez que vi meu pai foi no Dops,
na cadeia algumas vezes, porque enquanto durou aquelas negociações
para a contratação do Sobral Pinto estávamos juntos.


Edson – Como foi sua relação com Clara Charf?
Carlos – Normal. Clara nunca teve filhos, de tal maneira que eu
não tive nenhuma concorrência. Eu fui muito bem recebido, ela é uma
pessoa fantástica, ela me enchia de mesuras, de docinhos, pãezinhos.
Ela, como meu pai, era uma pessoa ocupadíssima. Eu não via Clara.
Eu saía de manhã para ir à escola, Clara saía também para a rua, eu
voltava mais cedo que todo mundo e Clara não havia chegado ainda.
A gente se encontrava nos finais de semana, ela é judia, e tem muito
conhecimento daquela culinária judia, me lembro que eu adorava
os pães que eles fazem, pães de judeu, não tem nada, é só farinha
de trigo, água e sal, era uma delícia, eu comia muito. Eu tive com
ela uma relação muito interessante, que foi evoluindo, ela é como se
fosse uma segunda mãe para mim. Uma relação muito carinhosa, eu
gosto muitíssimo dela.


Edson – No seu depoimento ao Emiliano José você se refere a um
encontro de seu pai com os dominicanos no início de novembro, no
Rio de janeiro. Não sei se você tem certeza, mas é uma informação
que hoje é contestada, até pelos próprios padres. Como você hoje
revê isso?
Carlos – O que acontece é que nós somos os depositários de
todas as informações, porque as fontes somos nós, geralmente nos

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