marighella

(Ornilo Alves da Costa Jr) #1
268 CARLOS, A FACE OCULTA DE MARIGHELLA

Marighella é tratado com uma reverência, às vezes com uma certa
simpatia, às vezes quer ver melhor, quer apurar melhor. Eu tenho
culpa no cartório, pois eu fui do partidão durante muitos anos, eu
militei, fui do movimento sindical, mas era muito comum as pessoas
me dizerem, até muito inocentemente, “olha você precisa olhar, esse
nome Marighella”, isso já aconteceu muitas vezes na rua, abrindo
conta em banco, tirando documento, já aconteceu muitas vezes.


Edson – E na prisão?
Carlos – Eu fui preso porque era dirigente comunista aqui na
Bahia.


Edson – Por ele ser temido, pela sua resistência, houve alguma
referência por você ser filho dele?
Carlos – Sabiam que eu era filho de Marighella, mas eu era
do partido, eu não era da ALN, isso não apareceu com força, nós
apanhamos muito, fomos torturados, mas as circunstâncias da
nossa prisão aqui já foram bastante atenuadas pelo fato de que nós
não tínhamos a vida clandestina. Então, no dia que eu fui preso
tiveram que me prender em casa, e aí correram no sindicato, hou-
ve na Bahia um grande movimento público de solidariedade que
impedia a nossa eliminação física, embora lá a gente percebesse que
eles quisessem, havia esse interesse, não havia condições políticas
para uma eliminação física. Para você ter ideia no dia que eu fui
removido da prisão para o quartel, o bispo foi nos visitar lá, ele era
um direitista, d. Avelar Brandão Vilela; minha avó que era muito
carola, veio do Rio e obrigou ele a me visitar na cadeia. O Partido
tinha uma base social em função da tática que ele pregava, que
repercutia muito esse tipo de intervenção, vide o caso de Manoel
Filho, vide o caso do Herzog. O fato de que o Partido tem uma
trajetória de luta geral, isso criava uma couraça que impedia uma
repressão mais ostensiva.

Free download pdf