marighella

(Ornilo Alves da Costa Jr) #1
EDSON TEIXEIRA DA SILVA JUNIOR 271

Edson – Ele já estava completamente envolvido?
Carlos – Meu pai, no caso dele, era perfeitamente previsível uma
solução dessa. Meu pai foi estudante perseguido, foi para São Paulo,
organizou o Partido Comunista, foi preso. Passou nove anos em
diversas cadeias, inclusive em Fernando de Noronha. Daí, se elege
deputado, pratica a mais aberta luta legal, sendo inclusive um tribuno
fantástico, cassaram o registro do PCB, cassaram o mandato dele,
vai para a clandestinidade com governos constituídos, participa da
eleição de Juscelino, de Jango, quando tudo estava maduro, naquela
época, aquela esquerda ganharia o poder pela via eleitoral, fatalmente.
Quando tudo indica para isso, vem à direita dá um golpe, prende
ele, bate, prende. Ele não tinha outra alternativa, a experiência de
vida dele forçosamente leva àquele pensamento radical. A violência
não fora pregada por ele, foi aqui exercida contra ele o tempo todo,
em que ele tentou uma ação democrática, em que ele tinha uma
inspiração, um desejo, um projeto para o país. Meu pai não optou
pela luta armada de forma impensada. Agora, em relação a mim, ele
nunca fez um proselitismo de tentar me convencer a escolher esse
caminho. Aliás, eu acho que se ele pudesse amadurecer um pouco mais
tudo que ele acumulou com a experiência, tudo que ele acumulou
com uma liderança querida e respeitada, com trânsito em todas as
frentes, eu acho que ele poderia ser uma pessoa capaz de estar numa
posição exata de formular um projeto capaz de reunir mais gente.
A esquerda era muito fracionada, mesmo aqueles que optaram pela
ação armada, havia muitas divisões, muito fracionamento, o que não
ajudava nem um pouco.

Free download pdf