marighella

(Ornilo Alves da Costa Jr) #1
EDSON TEIXEIRA DA SILVA JUNIOR 275

para posicionar, questão de datas, a gente já não lembra mais. Mas
o Marighella era uma figura fascinante. Inclusive, eu era diretor do
jornal O Momento aqui, o jornal foi fundado antes da legalidade, que
foi em maio, ele foi fundado em março. Foram fundados jornais em
vários Estados, mas todos eles eram altamente deficitários para pagar o
pessoal. Então, o Comitê Central fazendo análise da imprensa popular
(...) Então, O Momento era o único jornal para o qual o partido não
havia mandado nenhum recurso, pagava em dia seus funcionários e
não devia, não tinha dívidas, estava equilibrado. Ele disse: “Quem
é que dirige esses jornais? Manda buscar o Falcão para cá, nós não
temos experiência nenhuma de imprensa, o único jornal que havia
dado uma experiência positiva é esse, manda buscar o Falcão para cá”.


Edson – Para cá onde?
João – Para o Rio de Janeiro, tinha o Comitê Central e ele man-
dava me buscar. Eu fiquei lá, adido à Comissão, fazendo um estudo
sobre a imprensa comunista, um especial sobre a Tribuna Popular,
esse estudo foi concluído e entregue para o Prestes dois dias depois
do partido ser fechado e, por sorte minha, ainda conseguiram tirar da
escrivaninha dele, onde estava guardado, esse relatório porque senão
eu estaria preso e lá eu não era conhecido, eu era daqui da Bahia e
ninguém me conhecia lá, polícia muito menos. Por isso mesmo o
Prestes foi entregue ao fechamento do partido, seguiu para o aparelho
dele, em maio de 1947 no mesmo dia que o partido era fechado.


Edson – Foi aí que ele caiu na clandestinidade?
João – Ninguém sabe disso. Todos os livros falam da clandestini-
dade dele depois da cassação dos mandatos dos deputados comunistas,
em 1948. Mas ele ficou na clandestinidade, na verdade, desde maio
de 1947 e eu tenho um depoimento completo sobre esse período
inclusive conversando com o próprio Prestes. Tem muitos detalhes
inéditos sobre o partido nesse livro do Giocondo. Tem uma passagem

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