marighella

(Ornilo Alves da Costa Jr) #1
EDSON TEIXEIRA DA SILVA JUNIOR 301

ele me convenceu. Ele estava circulando assim como eu, e eu quase
caí por causa do sequestro.


Edson – Você morava onde?
Carlos – Em Santa Tereza. Clandestino. Eu caí na clandestinidade
em meados de 1969, acho que foi maio, junho de 1969. Na realida-
de, Edson, a nossa força era muito grande, nós não sabíamos disso.
Falando isso parece até um paradoxo, mas essa que é a realidade. Um
país naquela situação continental e internacional de Vietña, de Cuba,
de América Latina, o nosso potencial era enorme e os estadunidenses
viram isso e eles pensaram “joga tudo pra ferrar aqueles caras o mais
rápido possível”. E nós subestimamos essa nossa força, esse foi o
problema, nós subestimamos mais a nossa força do que a do inimigo.


Edson – Como que você vê a crítica sobre aquele período, es-
pecialmente sobre a luta armada e a ALN? O Minimanual do Guer-
rilheiro Urbano traça uma estratégia de guerrilha, só que a luta não
ganha as massas.
Carlos – Só que a estratégia nossa era do campo para a cidade.


Edson – Por que ela se concentrou nas cidades?
Carlos – Isso foi uma deformação. Quando as ações começaram a
ter uma repercussão tão positiva politicamente, aí é que está, as ações
eram um sucesso que você não imagina. Quando nós fazíamos as ações
e andávamos de táxi ou de ônibus, os caras queriam se filiar a ALN,
população, povo. O pessoal não tinha medo não, achava que a gente
ia ganhar: pega um embaixador estadunidense, pega uma rádio, faz
ações, a expropriação do cofre do Adhemar; a população, no início,
estava totalmente a nosso favor. Isso aí gerou uma incompreensão de
parte das organizações, que começaram a achar que tinham que fazer
mais ações nas cidades. Foi um momento curto e aí a ditadura impôs
um clima de terror. Foram eles que impuseram um clima de terror.

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