marighella

(Ornilo Alves da Costa Jr) #1
30 CARLOS, A FACE OCULTA DE MARIGHELLA

escola, no início do ginásio, costumava corrigir a mãe quando esta lia
“Nabocadonosor”, imperador na Babilônia antiga. Carlos Marighella
retrucava: “Não é ‘Nabocadonosor’, é Na-bu-co-do-no-sor”.^22
Já Augusto Marighella era rígido com os filhos; afinal, eram
oito e criá-los exigia uma definição sensata das prioridades. Porém,
procurava municiá-los como podia. O interesse de Carlos Marighella
pelos livros era incentivado pelo pai, que comprava livro à prestação.
A leitura será um hábito do qual Marighella não se afastou durante
toda a vida. Era comum, na casa da Rua Barão do Desterro, pai
e filho conversarem sobre a Itália. Tereza se impressionava com o
conhecimento do irmão.
A cultura baiana é bastante caracterizada pela sua ritmidade. É difícil
imaginar algum baiano que não tenha gosto pela música. O próprio
sotaque baiano soa rítmico. Evidentemente, não queremos criar um
determinismo. Em Marighella o contato com a música esteve presente,
nada profissional. Gostava muito de fazer paródias tocando o bandolim
da irmã Anita. Tereza Marighella não se esquece de um refrão que o
irmão cantava nas horas vagas: “Justiça de Deus na voz da História”.^23
Com o irmão Caetano, dividiu alguns momentos de lazer. Ambos
saíam no carnaval fantasiados de mulher: Caetano era a “francesa” e
Marighella a “cigana” que ia lendo a mão das meninas, sem esconder o
rosto. Marighella tinha alguns relances de boêmia. No final da década
de 1920 e início dos anos de 1930, em Salvador,


o modismo dos intelectuais juvenis eram as serenatas em Itapuã. Os poe-
mas, as músicas compostas ao dedilhar do violão, são facetas de Carlos
Marighella testemunhadas nas longas viagens da Baixa dos Sapateiros até
Itapuã, no período em que se levava um dia, por caminhos difíceis, para
atingir aquelas praias.^24

(^22) Idem.
(^23) Idem.
(^24) Jornal do Brasil, Caderno B, 12.07.1979.

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